O ano de ZOZO



Mais uma vez o celular despertou. Escovei os dentes. Banho. E foi enquanto eu tomava meu café que percebi: é dia primeiro de dezembro, é o último mês de 2020.

A sensação foi tão boa que meu café quente neste calor passou a descer como um copão de suco de caju, com bastante gelo, meu favorito.

Me refrescou. Me renovou... Que dia fabuloso!

No dia primeiro de janeiro de 2021, todo o desespero pode estar igual por fora – com Bolsonaro na presidência e ainda sem o espeto da vacina do corona no meu braço (será que vai ser no braço essa?!). Mas em mim, aqui do lado de dentro, será um novo momento, o comecinho de um ano todo cheio de coisas gostosas e novidades boas – lado a lado das ruins que sempre se misturam nessa vida, mas que, assim como não tiveram em 2020, mais uma vez não receberão a minha mais dedicada atenção.

Este ano de isolamento e fudimento ensinou muito, sim, mas faço questão de colocá-lo um pouco mais para trás na tentativa de ele seguir um pouco menos presente de janeiro para frente.

Para mim, o sinal da confusão veio ao final de 2019 quando uma pessoa leu ZOZO na minha cartinha escrita à mão com os votos para o ano que viria: 2020.

Será que a minha letra é tão tosca assim? “Para ZOZO”, ela leu. “Quem é ZOZO?”, não entendeu. O restante é história para rir de um ZOZO que infelizmente fez muita gente chorar.

Mas não tenho motivo para reclamar. O nosso mundo colapsou. O meu mundo se fortificou.

Uma semana antes do anúncio do governo sobre a quarentena, eu comecei a morar junto com meu namorado. Ele é um pouco desorganizado – sempre bom colocar um defeitinho antes de mandar aquele elogio, só para equilibrar e ele não se achar - mas a vida a dois flui com tanta naturalidade que - é cafona dizer, eu sei, mas – para mim não existiria mais esse tesãozinho de sentir que criamos um lar, daqueles com barulhinho de panela de pressão no começo da noite, se eu não estivesse todos os dias com ele e com as nossas bobeiras rotineiras.

No dia 28 de maio, minha irmã esperou de pé na porta do hospital até que permitissem a sua entrada para o parto. Só pôde entrar meu cunhado para acompanhá-la. Minhas mãe e tia esperavam por alguma notícia na calçada. Covid-19 tumultuando esse lindo convite de 20.

Atrasou. A gente quase surtou. Mas rolou. Que parto!

Minha sobrinha e afilhada é um serzinho maravilhoso que me arranca sorrisos a cada vez que olho para o porta-retrato com a foto em que ele está gargalhando na sala aqui de casa.

Este ano encontrei menos alguns amigos. Não me encontrei com duas amigas. Virei família de outras duas.

Trabalhei o dobro e me encontrei o triplo. Foram perdas e ganhos igualmente intensos. Esse é o lance de se viver os extremos, né? Tem beijo na lona e topo do pódio.

ZOZO foi o ano em que faltou aquela viagem ao mesmo tempo que foi o que em mais me sobrou saúde e disposição quando coloco os anteriores em comparação. 

Daqui para frente, não desejo mais nem menos. Não vou pagar a minha língua por afirmar que um dia vai ser melhor que o outro, que um ano novo vai ser mais ou menos fácil. Eu só espero e sei que definitivamente vai ser diferente. Que delícia. Saiu ZOZO, partiu ZOZI!

 

IMAGEM https://dribbble.com/shots/9784136-falling-man-illustration


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