Muita gente morre afogada tentando salvar quem
está se afogando. O desespero da pessoa por um apoio para sobreviver, faz com
que ela afunde a outra.
Fora d’água tem muita gente que também faz o
outro de tábua e muita boia murcha que veste o boné de salva-vidas e sai
oferecendo ajuda alheia sem o menor preparo para esse resgate.
Quando quem precisa de ajuda está afundando cegamente,
é difícil ajudar sem se prejudicar. Saber até onde ir sem se diminuir. Orientar
sem se anular.
Quando chega o momento que você precisa nadar
por dois, qual o melhor jeito de tirar o outro debaixo d´água sem também ser
arrastado?
No nado, o ideal é chegar por trás de quem está
se afogando, passar o seu braço por baixo das axilas da pessoa, segurando-a
pelo tronco, e com o braço livre, puxar a água, como um remo, até que os dois
cheguem a um ponto seguro.
Mas o trabalho também exige calma de quem está
sendo socorrido. É preciso aquietar o corpo, manter o queixo para o alto,
voltado para o céu, para que facilite a respiração e afaste a boca da água.
Ou seja, se quem precisa de ajuda não entende
que é necessário contribuir para ser salvo, ela morre – e talvez mate quem
tenta ajudá-la, pois nem sempre quem está no papel de salvador consegue se
desvencilhar a tempo deste desespero do outro.
Se mesmo no avião, quando caem as máscaras de
oxigênio, a orientação é colocar primeiro em você e só depois ajudar quem está
ao seu lado, a regra realmente vale para céu, mar e terra firme.
Quem oferece ajuda precisa estar preparado,
treinado, seguro, com um braço livre para remar, com a máscara bem encaixada
para respirar.
Nem todo mundo entende que ter onde morar
temporariamente não é o mesmo que usar a casa do outro por cinco anos. Que receber
ajuda dos pais aos trinta anos por pura escolha não lhe dá o direito de abusar
como se estivesse na pré-escola. Que ser ouvido também exige energia do outro. Que
não se cuidar, fisica e espiritualmente, vai fazer com que você tenha os mesmos
problemas, de novo e novamente.
Para quem ajuda, é preciso um pouco de egoísmo
para orientar a dose saudável desse altruísmo. Toda pessoa, antes de oferecer a
caridade precisa entender que você deve ser sempre a sua prioridade. Se for te
afogar, é preciso saber o momento de se distanciar.
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