Infração rumo ao Pulitzer




São anos em sala de aula para se obter o tão buscado título de jornalista. Anos estes, incansáveis, de ouvir uma palavra em especial, ética.
A checagem da veracidade dos fatos, todo o trabalho e cuidados que envolvem o relacionamento com as fontes e a atenção com as possíveis manipulações sobre o profissional, são outros pontos discutidos durante esta formação. Mas e depois de formado, qual o verdadeiro objetivo do jornalista e qual o mundo que encontrará fora da universidade? A resposta permeia-se entre a busca pela verdade e o medo da não sobrevivência.
Nas redações, a exigência de algo ainda não noticiado, o diferente, que seja atraente, porém, rápido, então o deadline, seu nome no seu veículo, sua imagem, sua meta em uma carreira podem fazer com que o jornalista esqueça por um momento o que ouviu durante anos de carteiras universitárias. Saber que se pode ganhar um prêmio como o Pulitzer - o mais prestigiado prêmio da imprensa americana - também é algo que pode influenciar na memória destes profissionais e até cegá-los os olhos da ética de sua profissão.
Stephen Glass, jornalista, publicou 41 artigos na revista de Washington, “The New Republic”, os quais seis foram completamente falsificados e o restante, parcialmente. “A única revista presente no avião presidencial” o demitiu em 1998 após a publicação de um artigo que chamou atenção de um veículo concorrente que, ao tentar confirmar as informações da matéria, não encontrou nada sobre uma única frase sequer de tudo o que era citado no texto.
A “New Republic” a princípio sustentou a honra de seu profissional e após pedir a Glass suas anotações e contatos sobre aquele artigo, passou ao veículo que os contestavam o telefone de uma empresa que era citada no texto. Dias depois a própria revista descobre que o telefone e até mesmo a gravação que se ouvia na secretária eletrônica da suposta empresa, eram forjados.
Glass defendeu sua ética até o último momento, enquanto pôde. Ele parecia acreditar em tudo que criava. Acreditar em um dia receber um Pulitzer. Anos mais tarde, o jornalista hoje chamado de falsário a ficcionista publicou um livro sobre sua passagem no “The New Republic” e sua história ganhou as telonas com o filme “O preço de uma verdade” - mais que recomendado para qualquer jornalista, entre outros profissionais que lidam com a informação.

O renomado jornal americano “The New York Times” demitiu o repórter Jayson Blair após ele ter inventado informações em reportagens feitas durante quatro anos pelo jornalista. Uma das justificativas de Blair para sua atitude foi a pressão que existia sobre seu trabalho, segundo ele, por ser negro.
O jornal publicou em uma edição de domingo um dossiê de quatro páginas sobre a história do jornalista durante sua atuação no veículo. Blair admitiu os erros e fez uma ressalva sobre a falha do “Times” em não ter notado antes suas invenções. Em matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, em 22 de maio de 2003, Blair afirma, “eles são tão espertos, mas eu estava sentado bem debaixo do nariz dele enganando-os”.
E quem disse que aquele que recebe o Pulitzer é digno do mesmo? A repórter Janet Cooke, da publicação “Washington Post”, ganhou em 1981 o tão aclamado prêmio. Uma de suas grandes histórias falava sobre a vida e o “mundo” de um garoto viciado em heroína em seu artigo “O mundo de Jimmy”. O resultado da criatividade da repórter foi o descobrimento da trapaça que a fez devolver o prêmio que a tornou referência de jornalismo e ao mesmo tempo deu a ela uma marca de deficiência ética e profissional.
Trocando as palavras “Washington”, “Times” ou “Republic” por um título de mais fácil entendimento para nós, o “Domingo Legal”, programa dominical da TV brasileira, mostra que não é só no exterior e muito menos na busca pelo Pulitzer que o jornalismo e a seriedade da informação não recebem a atenção devida. O programa apresentado por Gugu (Augusto Liberato), há alguns anos forjou uma entrevista protagonizada por atores que se diziam membros do PCC (Primeiro Comando da Capital) que foi ao ar em rede nacional e como se não bastasse ainda fez ameaças a ícones do jornalismo.
Editores e apresentadores são enganados. Ao menos dizem ser. Mas como controlar isso? O jornalismo esbanja espaço para que tudo isso aconteça. Desde a falta de tempo para apuração até o uso abusivo da informação “off the record” (“fora de gravação”), permite que alguns tipos de jornalistas tenham ferramentas em suas mãos para fazerem suas histórias, suas imagens, sendo necessário apenas um ego para massagear e as mãos da criatividade para fazê-lo. Realmente, não há controle para esta situação, nada os impede senão a ética.

Comentários

Anônimo disse…
Thanks. Im Inspired again.
Anônimo disse…
Kanami sang imo blog. Daw spaghetti.
Anônimo disse…
Yugs, daw nabasahan ko naman ni sa iban nga blog?