Pipoca na janela

Já ouviu a nova versão do clássico comercial de guaraná? Não? “Pipoca na janela, começa a passar! Pipoca pra cá, é só cê gritar!”. Pois é, acabei de criar!
A inspiração veio durante a volta do trabalho, no ônibus, às 19h15, na semana passada. Nesse horário, a linha Presidente Dutra vem mais lotada que o minúsculo congelador da minha avó com cervejas em dia de churrasco da família.
Com a sorte do acaso que eu não acredito, consegui um banco. Logo atrás de mim entrou uma dúzia de pessoas. Bancos e corredor lotados. O ônibus ainda parado.
“Moça, moça, pede uma pipoca pra mim?”, sentada atrás de mim gritou a folgada de blusa azul royal colada no corpo, mostrando os quilinhos a mais em volta do umbigo enorme. Só vi esses detalhes, porque virei pra trás na tentativa de acreditar que aquela mulher tinha mesmo feito aquilo. Com o ônibus lotado, prestes a sair, essa figura grita através do corredor sem espaço para a mocinha sentada em um dos bancos da fila do outro lado do Mercedes coletivo.
A menina olhou de volta para a royalouca e colocando a mão no peito, perguntou - “Eu?”. - “É, pede uma pipoca pra mim!”. A menina de vinte e poucos anos ficou de pé, colocou a cabeça pra fora da janela do Dutra e gritou para o pipoqueiro na calçada, ainda no ponto de ônibus, - “Moço vê uma pipoca pra mim!”. Então começa o bate e volta.
“Pediu?”
“Pedi”
“Quanto é?”
“Moço, ela tá perguntando quanto é!... Dois reais, senhora”
“Toma” – e passa o dinheiro para a menina, passando de mão em mão entre as pessoas de pé no corredor até chegar à mocinha. Uma nota de dez reais.
“Toma, moço” – entrega ela para o pipoqueiro.
“Vixi, não tenho troco” – responde o senhorzinho de boné e jaleco branco.
O motorista liga o ônibus para continuar a viagem.
“Rápido, moço!” – pede a moça.
“Espera aí ‘motô’ !!! – grita o pipoqueiro para o motorista enquanto conta as moedas na pochete em sua cintura.
“Vamos, moço, rápido!”
“Ele colocou sal?” – a chata atrás de mim. - “Pede pra ele pôr sal, que eu gosto!”.
O pipoqueiro finalmente passa a pipoca para a menina, que passa para a quarentona tarada por pipoca, que pede - “O meu troco, moça!!!”.
A mocinha pede o troco para o pipoqueiro. O ônibus começa a andar. O pipoqueiro passa as moedas pela janela para a menina e ela então entrega para a passageira desagradável.
No final, a mala com a pipoca e o troco na mão - “Obrigada, filha. Ele colocou sal? Ah, você quer?”. A menina apenas sorriu com uma cara de “Sim, eu quero. Quero que você pare de encher o meu saco”. E eu, boquiaberto com a situação e com a maior certeza do mundo de que eu no ligar da mocinha teria dito para a mulher levantar o traseiro gordo do banco e pedir ela mesma, se ela quisesse a pipoca na janela.

Comentários

Larissa disse…
Hahaha... adorei Má!
Cada cena bizarra que a gente vê no dia a dia que rendem bons posts aos blogs.
Se esta nova modalidade de pipoca pegar, hein?!

Bjos