Vó Cida




Chegou da escola. Encheu aquela “pratada” e correu para a cama da vó para não perder o desenho que assiste todo dia enquanto almoça.

– Foi tudo bem na escola?
– Foi sim, vó – respondeu o menino de 13 anos.
– Seu pai ligou e disse pra você ficar pronto mais cedo porque vem te buscar antes de pegar sua mãe no trabalho – disse a senhora, deitada em sua cama, ao lado do neto que comia rápido e sem tirar os olhos da TV.
– Tá bom. Vó... Tem como você me arrumar três reais? Preciso cortar o cabelo.
– Ué, já te dei seus “cincão” desse mês – devolveu a vó mencionando a mesada de cinco reais que dava ao neto.
– É que comprei chips para jogar tazo com os moleques na rua.

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– Ooooi, Tiago... Quanto tempo hein, “fi”?
– Oi, dona Cida. Pois é. Tudo bem com a senhora? – perguntou para a cabelereira que beirava os setenta anos.
– A tia tá bem, sim. Graaaças a Deus. Veio cortar o cabelinho? – com a voz sempre doce e arrastada.
– Vim, sim. Pode ser, dona Cida?
– Claaaro, Tiago. Senta aqui, que a tia já vai cortar. Vai deixar topetinho?

Enquanto respondia, o jovem comia um pedaço de bolo de laranja feito pela própria cabeleireira com um golinho de café na xícara de porcelana barata.

Dona Cida tinha os cabelos bastante grisalhos. Presos em um coque amarrado por um laço marrom de renda. Saia longa até as canelas e chinelos de dedo envolvendo os pés velhinhos presos por meias para varizes que deixavam seus dedos à mostra.

– Ai, “fi”, a tia não está com a cabeça boa. Seu nome não é Tiago, né? É Felipe?
– (Risos) Não, dona Cida. É Matheus. Mas está tudo bem.
– Ah... Desculpa, Matheus. A tia confunde tudo mesmo – acrescentou dona Cida ao terminar o corte – Quer que passe gelzinho?
– Não, obrigado dona Cida. Já vou tomar banho para ir trabalhar... E quanto é?
– Três, “fi”. Três “real”– e aceitou o dinheiro, guardando-o em sua velha pochete de couro marrom – Ooô, Tiago... Quer dizer... Matheus... A tia ficou sabendo da sua avozinha...
– Ah, pois é dona Cida. Ela faleceu no final do ano passado. Mas tudo bem. A gente fica com muita saudade, mas entende com o tempo.

Dona Cida deu um abraço bem gostoso como abraço de vó no rapaz crescido, dizendo para ele ir com Deus e que foi um prazer vê-lo de novo.





Comentários

Francisco Silva disse…
Diga-me onde a Dona Cida corta cabelo que preciso corta o meu e provar o bolo de laranja com um “cafezinho” . O lugar aonde eu corto não serve nem água para beber e está cobrando nove reais, o que dá para ir três vezes na Dona Cida para comer bolo.

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK.

Abraços.
Fiwen disse…
Putz... agora fiquei com saudade das vezes em que passava na minha avó pra pedir "cafezinho" da tarde...
Beijo e ótimo finde!
Rodrigo Ziviani disse…
Texto singelo. Saudade do cafezinho das minhas avós, que já partiram e também deixaram lembranças muito gostosas. Bj.
Que gostoso ler sobre as ótimas lembranças que as avós deixam em nossas vidas. É muito bom dividir isso. Obrigado Greice e Ro!

Pois é, Chicão. Você está perdendo dinheiro hehehe... e ainda um "carinho de vó". Já te passei o endereço!

Oi, Beta. Recebi o convite para o amigo secreto, obrigado. Muito bacana a ideia, mas esse ano não poderei participar. Fica para o próximo. Beijão!
Marisa Mattos disse…
Que pena...nao tive oprazer de ter uma avó...elas se foram sem que eu as pudesse conhecer...Lindo seu texto....
Unknown disse…
Que texto lindo!! Adorei! Fazia tempo que nao passava por aqui. Um grande abraço para você.
Oi, Marcia!

Pois é, que bom que apareceu. Como estão as coisas aí fora?

Apareça sempre.
Um beijão.
Tássia Beig disse…
Ai que saudades da minha vó. Ela me buscava na escola, contava a história do SERELEPE e me dava moedinhas todos os dia pra comprar sorvete na esquina. Qnta saudade...
"E por falar em saudade...onde anda vc?"
Agora ficou a Serelepe dela, fazendo a nossa alegria, né? Hehehe

Saudades, Tatá.

Um beijão.