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Meu lugar é mesmo com os estranhos que se questionam sobre o que realmente faz bem a eles e que não têm vergonha de assumir isso |
O Halloween nunca me fez tão bem como
agora. Tanto que, dias depois da comemoração, ainda estou me fartando de
travessuras. Deixarei as doçuras para o Natal.
Aliás, a data do Bom-velhinho já foi a
minha favorita. Não mais. O 25 de dezembro passou a me dar medo. Muito medo. Diferentemente
do Halloween em que as criaturas mais bizarras caminham pela Terra. Sinto-me em
casa com as aberrações.
Eu me refiro às verdadeiras criaturas que
assustam as pessoas, não àquelas que vestem fantasias e máscaras para mostrar o
seu lado “estranho” em um único dia no ano. Gosto do originalmente bizarro, do
naturalmente diferente. Eu sou um deles, definitivamente uma aberração.
Nada me assusta mais que o comum. Nascer, casar,
morar junto e ter filhos. Meus Deus... Mal consegui escrever isso. Meninos e
meninas recém-casados, ainda na casa dos vinte, falando sobre quando ficarão “grávidos”
– sim, eu sei, só a mulher fica grávida, mas é que criaram essa expressão, “grávido”,
para ver se alguns homens participam ou pelo menos fingem se interessar por
esse momento. Tenho calafrios.
Logo virá o Natal. E tão logo a pergunta: ”O que dar para a minha esposa?”. Sim, para ela, a mulher que muitas vezes o cara
não se importa o ano todo, ou, se importa até demais para que ela não desconfie
da sua segunda, às vezes até quarta, família.
Uau, eu vou ser odiado, marginalizado por
esse comportamento, como uma verdadeira aberração deve ser tratada. Mas eu aceito. Ou eu não
seria um legítimo monstro. “Direi a você quem são os monstros. As pessoas de
fora desta tenda, na sua cidade, em todas estas cidadezinhas. São as donas de
casa amarguradas, cheias de tédio enquanto dormem com seus maridos assistindo a
comercial de sabão em pó e sonham com estranhos prazeres eróticos. Elas não têm
alma...”, define Elsa, a personagem dona do circo de aberrações da série de TV “American
Horror Story: Freak Show”.
Menos, né? Exagero definir as coisas assim.
Pois eu aceito ser uma aberração. Afinal, não me identifico mesmo com a maioria.
Pessoas tão lindas e perfeitas.
Sério. Eu não tenho absolutamente nada a
ver com mulheres que perdem os cabelos para não perder os maridos promíscuos.
Eu não me vejo em pessoas que dizem acreditar em casamento enquanto esperam pelo
marido não estar por perto para poder flertar com o cara do trabalho pela
internet. Eu não consigo levar a sério o plano de se casarem dos noivos que se
ofendem e se desrespeitam todas as semanas. Do casal que não queria engravidar
e que briga quando descobre a gravidez, mas que, na frente dos outros, diz estar
muito feliz com a notícia enquanto todos lhes dão parabéns e seus pais lhes dão
o apartamento para morar. Eu definitivamente sou uma aberração por não entender
as pessoas que transam fora do casamento em escapadas durante a semana e que
passam as noites de sábado nos colos de seus maridos e esposas depois de jantar
fora. Até que a morte os separem? Amém.
Será que é por que eu sou gay? Mas eu
também posso morar junto e ser pai. Bem, ao mesmo tempo eu também me vejo em nada em casais de
homens que já chuparam boa parte dos amigos que eles têm em comum.
Eu não nasci para ter filho e não sou
verdadeiramente pleno ao morar com alguém. Uma aberração, eu sei. Meu lugar é mesmo
com os estranhos que se questionam sobre o que realmente faz bem a eles e que
não têm vergonha de assumir isso. É com as criaturas que se expõem porque vivem
o que sentem.
Está com mal-estar? Normal, aberrações
causam isso nas pessoas. Mas não se preocupe, eu não posso te fazer mal algum.
É só me deixar de lado, no meu lugar, fora de tudo isso. Eu agradeço. E desejo bom
Natal para os normais.
Comentários
Arthur Claro
http://www.arthur-claro.blogspot.com
Obrigado, Arthur. E você, por favor, faça o mesmo. Seja o tal bizarro rss. Um abraço.
amei o texto! Eu também sou meio aberração! Essas coisas de 'gente normal' não combinam comigo. Essa vidinha chata, da qual todos se orgulham e, basta alguém virar as costas para despejar as reclamações, também não combina comigo! Eu também costumo causar mal estar nas pessoas, falando coisas que ninguém quer ouvir! E me sinto uma aberração cada vez que falo que não quero ter filhos. É assim mesmo que as pessoas me olham, com cara de quem ver assombração...rsrs
Abraço pra vc
Certo, Ro? Obrigado demais pela visita. E realmente, como te conheço – Oh, Grande Aberração! rss – nem precisaria se explicar.
Definitivamente, "a genuína felicidade está em ser autêntico". Sempre.
Thanks!
Não concordo com esse modo de vida, até por isso nunca tive coragem de viver "o amor" longe da "minha" casa, porque não aceito essas atitudes fora da relação e ao menor sinal dessa possibilidade as coisas perdem a graça. Se me entrego é por inteira!
Também não faço questão de casar e ter filhos, não me vejo morando com uma pessoa a vida toda, mas se acontecer vou curtir da mesma forma e meus filhos serão muito amados.
PS.: Adoro seus textos, principalmente porque falam de comportamento que é meu assunto preferido!
Bjss!!
Obrigado, Sandy. Adorei o seu comentário. Mais ainda o seu jeito de ver as coisas. Thanks. LOVE