Finésse bagaceira

Foto: Ben Hopper from the Naked Girls With Masks



O nome dela é composto. Sua voz é única. Acerta na ideia de se vestir enquanto algo sempre entrega aquela essência que ela tem por traz da postura cheia de modos. A blusa tem corte certeiro, cor elegante, mas sempre sobre um babado, um laço.

No corpo fabuloso de 26 anos, cintura fina, bumbum arrebitado e aquele par de peitos que existe mas não te bate à cara, a calça veste sempre muito bem. Somente quem olhar de muito perto vai ver aquele buraquinho na lateral de fora de uma de suas coxas. A barra está sempre na medida. A estampa às vezes transborda.

Usaria blazer com vestido e botinha de cano baixo para sair. Mas pergunta antes, com foto pelo celular mesmo, para saber se está pisando muito fora da faixa com a escolha. Ouve. E logo coloca o blazer de lado e complementa o look da noite com uma bela pulseira.

Solteira da balada, quase inevitável não falar dos homens que conhece entre uma semana e outra, de um estado e outro, de fora do país. Se sai na sexta, morre nos dois dias seguintes. Só entra na boate se for para beber sem contar o dinheiro. Sabe o que aparente e não faz pose. 

Só vai para a cozinha se for para a mãe não meter o bedelho. E sempre vai. Faz lasanha... Quem não adora quem faz lasanha? E prepara cada caçarola enorme de carnes e legumes que só quem a segue nas redes sociais sabe a vontade que dá de comer aquilo.

Fica jogada no sofá com a cachorra com a mesma serenidade que se joga no carro do paquera da noite. Sempre consciente. Mulher que, se o cara errar a mão naquele tapa quente durante o sexo, sabe pedir para ele se dedicar mais no que ela quer e não inventar modinha sadomasoquista sem acordo prévio.

Sabe lidar muito bem com homem bem resolvido, cavalheiro ou cafajeste. Tanto faz. e ela curte os dois. Mas se perde por não entender direito as indiretas em mensagens privadas enviadas pelo cara casado, de esposa gravida de poucas semanas, que acabou de conhecer no aniversário de uma colega.

Ela é inteligente a ponto de saber que, onde está chegando pela primeira vez, é melhor ouvir primeiro. Tudo. Todos. Só observar. Quando à vontade, é estabanada de interromper a conversa entre quem já conhece de tanta empolgação para contar o que acabou de descobrir.

Fala sem medida o que tem vontade se sente-se confortável, mas te observa muda, com olhos de quem ouve ao médico dar um diagnóstico, aquele que te orienta sobre algo.

Escreve sobre a estação de monta natural entre touros e vacas - a trepada deles, para quem não conhece com esse tom fino – e sobre a sensibilidade de se adotar um cãozinho. 

Ela é quase a última a saber que William Bonner e Fátima Bernardes se divorciaram depois de 26 anos juntos. Mas a cada noite de aula em casa depois do trabalho, aprende uma nova música no violão.

No celular com os amigos, compartilha do vídeo do baterista gato na banda sertaneja na madrugada de sexta até o áudio com sua voz doce cantando um romance que acabou de aprender a tocar numa quarta logo depois das seis.

Aliás sua voz, sobre e desce. Como tudo nela - que não ouso definir como menina ou mulher. Prefiro "ela". Sobe enquanto solta o palavrão quando derruba a erva de seu tereré na roupa nova que comprou para trabalhar. E desce no carisma com o entendimento do assunto durante o bate-papo com aquele profissional renomado.

A mesma voz que chama alguém da família de "Diaba" quando aprontam algo sem noção, deseja "Fica com Deus", de coração, durante uma breve despedida.

Tem música que a distrai, tem música que a leva exatamente para onde ela quer. Nunca torce o nariz para ouvir algo que ainda não conhece. Te surpreende por conhecer o cantor irlandês que você indica enquanto ela se dedica ao sertanejo.

Mantém o cabelo cacheado sempre muito bem arrumado. É parte de seu estilo, a diferencia da maioria de chapa, alisamento, cores e caras de bobas iguais. Poucos sabem que, se precisar, ela usa até detergente de saboneteira de banheiro para tirar aquele frizz do cocuruto antes de entrar ao vivo – e impecável – com seu entrevistado no programa de TV.

Ela tem muito o que aprender, sim. E eu com ela e suas histórias de caçar capivara quando criança no Mato Grosso, sua tia que seria dona de bordel, a avó crente assanhada com videos na internet, seus incontáveis irmãos de desconhecidas regiões do Brasil.

Tenho muito o que aprender com seu carinho e sem-vergonhice. Minha nova amiga é Francieli e é Raquel. Deixei claro que ela é composta, complexa de tão simples? Ela é de uma finésse-bagaceira que só ela.  



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