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Complicado é, principalmente, aquilo que não estamos afim |
Perguntei há quanto tempo ele estava solteiro
e ouvi “Então... É complicado”. Esse é o momento que você começa a fazer uns
sons estranhos, meio fanhos com a boca e finge que teve um derrame só para
terminar a ligação.
Em vez disso, eu disse de volta: “Entendo”.
Entendendo nada! Conheci o Fofo em um
coquetel que fui a convite do Lindo com quem estava saindo na época. O Fofo
chegou em uma amiga que revi depois de anos de formados juntos e perguntou quem
eu era, com quem eu estava, se meu cabelo é natural, se tenho histórico de
diabetes na família e coisas do tipo, além do meu telefone.
Passado o meu número, troca de mensagens na
mesma noite e um encontro rápido dias depois. Fui até ele em um bar quando saí
de um jantarzinho com amigos. Eu, ele, a tal amiga minha de faculdade e um trio
de amigos dele. Sento na cadeira ao seu lado, ele pega na minha mão, faz
brincadeiras, clima leve, me abraça por trás da cadeira, minha mão na perna
dele e, juro, que senti uma argola no bolso de sua bermuda. Esse é o momento que
você finge uma reação alérgica ao belisco que comeu no bar e começa a asfixiar
como se sua glote estivesse fechando e corre para tomar um ar. O ar que só tem
na sua própria casa.
Mas, não. Fiquei. Fui ao banheiro e ele correu
atrás. Me lascou um beijão lá mesmo. Bom demais. Voltam os dois para a mesa e
pagam de casal de novo.
Foi aí que nos próximos dias ele me lembrou
que o celular também faz ligação e não precisa viver só de 4G e wifi. Me ligou.
Quarenta minutos de papo e risadas deitado na cama, olhando para o ventilador
de teto e me divertindo sem ver o tempo passar. Ele: “Quando vamos nos ver de
novo?”. Eu: “Vamos combinar”.
Mensagens e mais mensagens por alguns dias –
recebi até fotos dele no carro em frente a empresa em que trabalho, tiradas
enquanto ele viajava para a cidade dos seus pais. Um charme, né? Eu adorei.
Segundo telefonema dele e a minha pergunta
sobre o tempo desde o fim de seu namoro. A resposta eu já contei. O que era a
argola no bolso da bermuda no bar, eu deduzi.
Então, é complicado? Muita gente, sim, bem
complicadinha. E nesses nove meses solteiro, vi e revi. Ou melhor, vejo e vou
rever.
O Fofo continua me chamando. Ia viajar para
fora do Brasil, não sabe mais se vai. Está esperando a resposta de uma proposta
que surgiu por aqui. Já até entregou seu apartamento. Eu, sinceramente, gosto
da vibe dele. E mais: admiro gente desprendida que se arrisca e experimenta as
coisas em um esquema de controle total de sua vida. Mas domínio demais para
agir sempre do jeito que quer, como quem realmente pode tudo, é delicado.
Imagina: estou pensando em terminar o meu
namoro, por isso estou saindo com você. Termina primeiro. Abra espaço no
guarda-roupa para só então comprar peças novas. Sempre ouvi que “Não se pode
ter tudo”. Acredito e tenho isso comigo como uma reza. Se discordarmos disso,
seremos insaciáveis eternamente. Saiba o que te pesa mais e priorize isso. O
restante, de gostoso e de dificuldade, virá no pacote.
Complicado é, principalmente, aquilo que não
estamos afim. A matéria na faculdade, o relatório que precisa entregar todo mês,
o prato para preparar sem vontade de ir para a cozinha, a corrida no parque
antes do expediente sem a menor afinidade com exercícios, o relacionamento que
não estamos dispostos a ter. Isso, sim, é complicado.
Comentários
Obrigado pelo comentário. Eu adorei. Um beijão.
Complicado - Você tem bafo
Complicado - Você é chato para caralho
Complicado - Tô sem grana
Complicado - Não sei se vale a pena
Complicado - Tô afim de dar para outra pessoa
Complicado - Tem uma festa hoje e eu não vou perder para ficar ouvindo o seu nhenhenhê
Complicado - Ela tem depressão e eu não quero te dizer
Complicado - Não entendi porra nenhuma
Por isso quando alguém me diz que é complicado tenho vontade de mandar a pessoa ir se fuder...
É complicado... rsrsrs
Delícia de texto. E o melhor: descomplicado. Claro! Direto!