30



Na contagem regressiva para a virada de ano, pode ser que ninguém encontre a minha mãe. Acontece que ela corre para o banheiro. Faz de tudo para evitar o momento. Acha meio constrangedor, meio bobo ter que abraçar todo mundo e desejar feliz ano novo. Não a culpo.

Na minha contagem de menos de sete horas para eu virar para os 30 anos, ainda não sei ao certo o que é constrangedor ou não. Nem para onde correr quando agir de forma tosca.

Quando me imaginava aos 30, pensava na minha melhor versão, como o ápice da minha vida: meu apartamento, meu carro, eu bem com o meu corpo e muito, muito independente e bem resolvido. Conquistei tudo isso. Mas prefiro amenizar este pacote inquestionável por alguém um pouco mais vulnerável. Menos certo de tudo. Mais disposto a ir e voltar um pouco atrás sempre que preciso.

Os 29 anos são a idade em que terminei um relacionamento cheio de amor e companheirismo por falta daquele tesão que, na minha opinião, claro, jovens casais (principalmente) devem viver. E a culpa foi só minha. Inquietação que me leva e me traz coisas.  

Me permiti conhecer gente. Algumas pessoas interessantes, sim. A maioria, na verdade. Adoro conhecer novas histórias, diferentes perfis, aprender algo com cada uma delas. Mas o que fazer com as que passam pelo nosso caminho? Vão todos para o Face? Para um lugar no seu coração ou ficam como uma breve lembrança no fundo da minha cabeça? Talvez a área de conversas arquivadas no Whatsapp, afinal, com smartphones não há limite para o cadastro de contatos.

Fui e voltei muitas vezes no “Oi” ocasional com algumas dessas pessoas que a vida de solteiro me trouxe. Cortava quando achava que não daria em nada. Mas eu esperava que desse em quê? E se não der, precisa fingir que nunca aconteceu? Em meio a esses meses, desfiz a amizade com um cara na famosa rede social e ele me mandou uma mensagem perguntando o motivo. Eu disse: “É que nunca fomos amigos e quase não nos falamos mais”. Ele respondeu: “Você é amigo de todo mundo e conversa com todos que estão no seu Face?”. Toma, Matheus! Leva essa para os seus 30.

A caminho desta versão impecável que eu buscava, me faltou leveza. Dei sermão em boas pessoas que apenas estavam experimentando coisas que fazem parte do aprendizado. Julguei, julguei. E não digo que não julgarei mais. Mas definitivamente muita coisa eu posso guardar para mim.

Comprei brigas no trabalho por ter tatuada a minha “Tal Verdade”. Ou será que eu só defendia aquilo que eu aprendi a fazer e me dedico há tanto tempo? Na dúvida, para evitar constrangimento, melhor pensar no que vou tatuar por cima da tal crença. Afinal, não se ganha todos os embates, não se prova a todos quem somos o tempo todo.

Na entrada para os 20 anos, dizia para quem passasse por mim que eu jamais teria contato com ex-namorado. Na virada para os 30, fico feliz sempre que recebo um “Como estão as coisas?” de uma das duas pessoas com quem vivi junto por anos.

Só quem experimenta algo sabe o que aquilo te causa, se é a sua ou não. Nos 30, que tenha sexo, mas que seja com um de cada vez. E que o intervalo entre uma experiência e outra seja suficientemente saudável para eu não me perder de mim, do sabor do sexo que é gostoso por não ser automático.

Sexo com amor e paixão são impagáveis. Sexo bêbado com desconhecidos não te leva a nada. Na-da. Mas uma transa com quem a gente tem aquele tesão desde as primeiras trocas de palavras e então o beijo encaixa, pode não virar casamento, mas ter deliciosos repetecos que oferecem, sim, intimidade. Tudo com o tempo.

Gente perdida pode ser ajudada como também pode não sair do lugar. Não sair do lugar nunca.

Para eu namorar, preciso ser encantado. Só isso. Encantamento e certa admiração. Basta somar isso à disposição para estar ao lado de alguém e pronto, saindo um novo casal pra já!

Estou disposto. Não estou à procura. Não quero conhecer todas as opções possíveis da vida de solteiro nem preciso dormir sozinho noite após noite enquanto não rola um novo amor.

E se encantar é diferente de se apaixonar. Encanto é uma pontinha de amor. Paixão enlouquecedora perde força com o tempo, seja ela já brilhante em um casal, seja a que surge do nada entre duas pessoas. Porque quanto mais o tempo passa, mais conscientes ficamos. E se apaixonar é não raciocinar.

Pelos colegas de trabalho, sempre fui chamado de Demônio. Esse ano cheguei a ser tratado como Pleninho, tamanha plenitude que alcancei. Mas passou. Agora, não sou céu nem inferno. Sou só um pouco mais consciente desses dois albergues que nos recebem de tempos em tempos.

Na virada para os 30, longe de mim pensar na chegada aos 40. Não pela vinda da idade que, sim, só tende a nos tornar melhores pela chance de aprendermos algo que nos faça bem a cada novo dia; mas porque ser presunçoso é perda de tempo, de saúde, e não há banheiro que a gente entre para se esquivar disso.





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Comentários

Lucimara Souza disse…
Viva - seus 30, seus anos, sua vida - em plenitude, sem constrangimentos!
Bjs!