A gente esquece de agradecer. Pede,
pede, pede e nada de dizer algo de volta. A gente pede quando está mal e
esquece quando está bem.
Quando a gente agradece é automático. Se
deita na cama e agradece pela saúde, pelo amor, pela paz, pelo alimento, pelo
lar, pela família e pelos amigos. Vira roteiro. Ninguém agradece pelo cara que
buzinou alto no trânsito enquanto a gente invadia a outra faixa por dar aquela
olhadinha nas mensagens no celular. Ele, que pode ter salvado a vida da gente,
passa a ser o chato mal-humorado que estragou o nosso dia antes mesmo de a
gente chegar ao trabalho.
A gente esquece de ouvir. Basta alguém
comentar algo sobre o seu dia que, assim que o outro parar para tomar um
fôlego, a gente desembesta a falar do nosso. A gente pergunta do outro para
falar o que queremos. Comece a prestar atenção. É sempre a gente, a gente, a
gente. Peça a opinião de alguém sobre algo que diz respeito a você e tão logo
você ouvirá todas as histórias de vida do outro sobre as coisas dele
mesmo. A gente fala o que quer e não
ouve o que não quer. Acaba com uma amizade por pura vaidade.
A gente esquece de entender. Busca,
busca e não se sabe o quê. O desejo do outro passa a ser a nossa meta. A
viagem, a roupa, o cargo, a série de TV, o relacionamento, filhos ou não. E
nessa de um se espelhar naquele ao lado e então o outro no outro, a vida se tonar
um enorme ciclo de personalidades padrão desfiladas em uma esteira da qual
ninguém ousa pular fora. A gente faz sem saber para quê. Acorda sem ter um
porquê.
Em tempos em que todos podem ser algo
diferente dos demais, afinal, nunca antes houve tanta liberdade e opções, a
gente vive de postar.
Posta, posta, posta. Você viu? Eu
também. Comprou? Eu também. Se você for, eu também vou. A gente definitivamente
não sabe lidar com escolhas. E nunca antes houve tantas delas a serem encaradas.
A gente gosta sem saber de quê. Gasta
sem sentir o porquê. Beija sem conhecer aquele “que”.
A gente desaprende a sonhar. Afinal, não
se sonha o sonho do outro. Não há nada mais pessoal que os nossos próprios
desejos. Não há nada mais autêntico que negar um convite que não é do seu
agrado.
A gente acaba com a gente sem saber que
quando morrermos algumas pessoas vão se importar, mas que em pouco tempo isso
também vai passar.
~D|caneca~D|caneca~D|caneca~D|caneca~D|caneca~D|caneca
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