Por favor, não comente




Está aqui um aviso que ainda não li em lugar algum: “Por favor, não comente”. Atenção publicitários e designers, pode pegar a ideia e chamar de suas. Com certeza daria em uma ótima placa.

Acontece que com tanto espaço disponível, o povo começou a achar que deve comentar tudo, em todos os lugares, na internet e fora dela.

Uma amiga, fã de Coca-Cola Zero, chegou ao supermercado, pegou as suas latinhas para os almoços da semana e, antes mesmo que pudesse sacar o seu cartão-alimentação – benefício suado pela empresa em que trabalha – a atendente do caixa solta um: “Essa Coca-Cola tem muito sódio”.

Oi?!

Em que momento ela foi liberada da pergunta mal-humorada que todo caixa que se preze deve fazer: “Vai querer Nota Fiscal Paulista?”.

Minha amiga respondeu o mais gentilmente/não te perguntei o que acha do refrigerante que eu compro.

Por favor, colega caixa de supermercado, passe as compras, não comente sobre elas.

Desta vez foi comigo. Estou na fila do caixa em um outro lugar, uma loja de conveniência, e ao lado das pessoas enfileiras aguardando para pagar por suas compras, uma jovem promotora convida as pessoas para conhecer a marca de cigarros que voltou para o mercado brasileiro.

Enquanto ela cumprimenta gentilmente quem passa por ali e pergunta se a pessoa fuma, tem um idoso à toa pendurado no cangote dela dizendo que para a brinco da coitada, que cigarro mata.

“Quem é que atende o cento e seis?! Eu ligo lá e ninguém atende. Isso aí que você está vendendo mata as pessoas. Minha mulher está com câncer, de cama, por causa disso aí”, falava o mala sempre parar. A menina, neste emprego digno mas que não é qualquer um que topa, respondia sorrindo amenidades como “Este telefone não é nosso, senhor. Se quiser posso te passar o nosso SAC... Pois é, senhor... Nossa, que pensa, senhor”. E eu torcendo para um caça talentos encontrar aquela garota e promovê-la enquanto eu também estava torcendo para o velho ter um derrame ali mesmo e parasse de falar.

Cara chato. Gente chata. Por favor, não comentem. Se a senhora esposa dele fumou e teve câncer por isso, o que a menina tem a ver? Alguém obrigou a velha a se matar de fumar? Vai lavar uma louça em vez de tumultuar a vida dos outros. Varrer uma calçada. Passar uma roupa. Mas não enche com seus comentários.

Todo mundo acha que tem que ter opinião sobre tudo. E registrá-la. Basta entrar em uma página com perfil para pets no Facebook. Ao postar a imagem fofa com um filhotinho de cachorro, imediatamente – e ao logo de semanas –, acumulam-se comentários que dizem: “Lindo”.

E aí vão: "Lindo!". Que lindo!!". LINDO!!!".

Exatamente dois dias depois do episódio com o velho que abomina cigarros – dois dias porque em um deles eu saí do trabalho e só dormi, sem passar em lugar algum – uma mulher de meia-idade está parada ao lado da atendente do caixa do mercadinho aqui perto de casa perguntando onde está “a receita” no jornalzinho deles.

“Cadê a receita, não tem mais?”, pergunta a louca com o jornal na mão. “Qual receita?”, reage a atendente com feição fúnebre. “A receita culinária que costumava ter nos jornaizinhos de mercado de antigamente... Não tem mais?”.

Gente... Eu nunca vi esse tipo de coisa em folheto de promoção de supermercado. Mas. Considerando que isso já existiu, se a fofa olhou o jornal inteiro e não achou, quer dizer o que? Que não tem receita culinária em nenhuma página. Mas a pessoa preeciiiiisaaa comentar.

Comentários

Lucimara Souza disse…
Kkkk
Ah, Matheus, as pessoas gostam de fazer isso. Isso causa nelas a sensação de "eu faço parte", certeza.

Mas, perae, podia comentar o texto aqui, neh?
Kkkkk

Beijos! Aqui eu comento mesmo! Hahaha

Comente MES-MO, Lu! hahahaha Pois é, se não comento, logo não existo rsrs. Beijo! thankYA