Dia dos Ex-Namorados



A cada novo Dia dos Namorados, ganhamos de presente um novo ano de distância dos nossos ex-namorados, ex-namoradas, ex-esposas e ex-maridos. Alguns os colocam no passado. Outros dão como mortos. In memorian. É quase assunto para ser lembrado em Dia de Finados.

Há quem comente a existência do ex com os amigos, mas coloca uma pedra em cima. Outros dizem ter consideração pela história passada, mas se encontrar o Fulano ou a Beltrana na rua, atravessam para o lado contrário sem olhar na cara.

Eu gostaria que de tempos em tempos também fosse Dia dos Ex-Namorados. Assim como a experiência atual deve ser bem cuidada, a anterior deve ser reconhecida. Uma coisa leva à outra. Só o seu passado te dá um pouco de aprendizado para o atual presente a dois ou a um – ou a vários, né?

O que acontece é que enquanto vemos o relacionamento anterior como uma história com começo, meio e fim, nos colocamos como se tivéssemos vivido em um livro que nada tem a ver com quem somos hoje. Jogado no sótão. No quartinho da bagunça para nunca ser revisto. Quando não, doado ou até queimado junto às fotos do ex-casal.

Em vez de uma publicação completamente separada, eu proponho o conhecido Capítulo de uma história que há muito o que se escrever e a se ler ainda: as nossas vidas. Um livro com o mesmo personagem principal, independentemente da troca de personagens coadjuvantes: você, o protagonista.

Para este Dia dos Namorados, eu quero de presente um ex-namorado - pausa para o choque e para quem precisa voltar e ler de novo.

Sim, eu troco jantar, presente caro, cineminha, viagem e motel por uma saudável e madura troca de mensagens que não vá além de um “Oi. Tudo bem? Como estão as coisas? Nosso sentimento mudou, eu tenho outra pessoa, estou sendo feliz com tudo o que tenho recebido da vida e quero que saiba que desejo o mesmo para você, que hoje vejo com carinho tudo o que vivemos naquela fase”. Pronto. 

“Ah, Matheus Farizatto, você diz isso porque não está namorando!”. Não estou namorando e, enquanto estive, teria dado, sim, um “Oi” para um ex ou uma ex – sim, longa história, já namorei homem e mulher, mas continuo não gostando de gatos. Aliás, com uma delas tenho isso de um jeito muito legal, nessa dose, “Feliz Aniversário!” e “Como estão as coisas, Ma? E seus pais?”. Sorte a minha.

Alguns especialistas em serem especialistas somente no que acham que são especialistas vão dizer que isso é amor mal resolvido, paixão enrustida. Não é.

Eu não falo de amizade com ex, de tomar cerveja junto toda semana e frequentar a casa um do outro no Natal. O meu ponto é simplesmente não ter que fingir que nunca aconteceu algo, reconhecer que é parte de quem somos hoje, que estamos na mesma cidade. Não ter que evitar uma troca de mensagem depois de meses, depois de anos daquele capítulo concluído juntos. Não ter que usar bloqueios em todas as redes sociais e aplicativos para garantir que o outro não exista. Eu definitivamente acho isso muito, muito triste. São pessoas com quem dividimos nossas vidas durante um período, envolvemos nossas famílias, dormimos juntos.

Há quem não tenha afinidade nem para um “Olá” ao ex. Tudo bem, eu entendo. Há também quem traumatizou de um tanto que faz mandinga todos os dias para que o fofo ou a fofa seja atropelado. Vamos respeitar o ranço de cada um. Mas, ainda assim, eu gostaria que, com o tempo, até isso passasse e ficasse a consideração pelo algo bom.

Para mim, o mal resolvido é justamente evitar, não falar, atravessar a rua, ignorar, não lembrar nem comentar quando surge um novo alguém. Soa insano. É fora do racional.

Será isso? Não conseguir ser racional? Pois olha, se você ainda não consegue racionalizar a sua emoção quando se trata de um antigo amor, é melhor você rever a sua companhia para esse Dia dos Namorados. Você pode descobrir que, mais do que eu, você precisa de um belo Dia de Ex-Namorado, com direito a presente, depois jantar e... Você sabe o que mais.


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