Se
aquela livraria estivesse aberta, você poderia perguntar: entre e comprei três
cadernos e cinco canetas. Todas pretas. Os cadernos, um grande e dois pequenos.
Um espiral e os outros molesquinis. Pronto! Tudo o que eu precisava para passar
a escrever todos os dias para o blog, em vez de uma vez por semana.
Isso
faz dois anos. Uma das canetas ainda tem tinta. Dois dos cadernos ainda estão
no plástico da livraria.
Neste
texto, escrevo enquanto a panela de pressão berra, o ventilador bate e o Elias
assisti a algo no quarto. Eu, na sala, na mesa, notebook, ao lado da janela no térreo
e com um vizinho assoviando sem sucesso na tentativa de o morador do andar de
cima ouvi-lo e aparecer na janela para jogar a chave da porta do bloco para ele
entrar.
Conto
isso para mostrar que não tem pretexto para que saia um texto. Escritor é quem
escreve. Só escreve quem começa a digitar na frente da tela, quem pega o lápis,
o giz, caneta (tinha ou tão) e pinta o papel, a parede, a mesa.
Se
você quer escrever, larga a mão de esperar, planejar, elaborar e justificar. Ter
um lugar mega charmoso, com uma estante cheia de livros atrás, uma poltrona
floral e uma escrivaninha de cerejeira não vão mudar o ponto de você simplesmente
escrever. Casa no lago, vista para paisagem, silêncio ou um café de vibe intelectual
são incentivos, mas quem vai escrever é a mesma pessoa, não importa o ambiente.
Ano
passado o marido de uma amiga me mandou o rascunho de um roteiro para seu
livro. Perguntou minha opinião, pediu ideia e uma revisão. Adorei participar.
Me senti, confesso.
Há
alguns meses, outro escritor me manda os capítulos que formarão seu livro,
postados no Instagram Fragmentos de um Mosaico. Iran Jr aos poucos cria um
personagem bem interessante, revelado aos poucos e até mesmo sendo descoberto
por seu criador sem pressa de definir que ele é ou quem vai se tornar – assim como
a gente dia depois de dia nessa vida louca, nessa Terra fofa.
Os
exemplos são para mostrar que todo mundo pode escrever. Eu sinceramente não sei
a formação ou a profissão dos dois – porque a escrita ainda não é fonte de
renda deles. E isso não importa.
Outra
coisa que acalma o coração de quem quer escrever: você não precisa saber a
gramática inteira. O Português é um idioma fora de base para se dominar. Se for
esperar saber todas a conjugações e tempos verbais, fodeu. Você não vai começar
a escrever nesta encarnação. Este conhecimento técnico mínimo é importante,
claro, mas não pode amarrar aquilo que você tem para dizer. A filha de uma
amiga se formou em Letras e um dia comentou com a sua mãe, que depois me
contou: o mais importante é se fazer entender.
O
que realmente é foda de bom e eu recomendo para quem quer escrever é ler.
Leia.
Não importa o quê. Vai ter algo que você curta e se identifique. Para mim, ler
é como um empurrão para a minha cabeça e da minha cabeça para os meus dedos. Faz
o texto surgir!
Além da leitura, observação. Observe o que as pessoas dizem, como dizem, seus comportamentos, situações de modo geral... Eu amo! Daí vem muita coisa e ideia boas - porque aquele papo de esperar a inspiração... Para, vai.
Relaxa se você não é um leitor daquelas grandes obras. Eu não sou. Nunca li os chamados “clássicos”
nem para o vestibular que resultou na minha faculdade particular. Isso não vai
fazer de você escritor. Também pensar em escrever algo super inovador e que
ninguém jamais pensou que leria coisa parecida um dia, é furada. Vai te barrar. O interessante é mostrar a sua visão de
algo, com seu estilo, mesmo que aquele tema já tenha (e com certeza foi!) sido
escrito por outra pessoa.
Vai
e escreve! No papel para fotografar e postar, ou para guardar, em blog, site,
story, Medium ou em e-mails, WhatsApp, Telegram ou, por que não, cartas. Dia 25
de julho é Dia do Escritor e este texto sem pretexto é para te incentivar a ser
e a fazer tudo o que você - por qualquer motivo ou discurso que ouviu de uma
pessoa sem noção - achou que você não nasceu para isso.
Comentários
Já escrevi alguns assim também.
A maneira como cada um escreve é mto singular e isso que é bacana! O "como" se escreve é, muitas vezes, mais interessante do que "o que" se escreve, e eu amo muito tudo isso.
Bjs, Matheus! Parabéns sempre!