Levei uma coça!


Esperei o melhor momento para escrever este texto e ele não chegou. Não chegou por puro medo. Um medo louco de escrever “Volta, Paulo Gustavo” e ele não voltar. 

Pra mim, escrever seria tão delicado quanto o estado de saúde desse ser que me faz chorar de rir. 

O medo da dúvida passou com a certeza da tristeza. 

O perfil de cada personagem, me coloca em uma viagem. Sua fala rápida repassa bem devagar na minha cabeça. Seus gritos histéricos e agudos, me dão um pouco mais de paz ao pensar no silêncio que vai ficar. 

Choro pela perda deste mundo, pela nossa perda neste momento, pelo Brasil, por perder alguém que nos fez tão bem.

É assim que sinto a perda de toda pessoa que trouxe sorriso para a gente em momentos em que a gente vivia de gargalhadas mais fáceis.

Justo quando o riso ficou reprimido, praticamente proibido, lá se vão eles, os alegres, os contagiantes, os transformadores pela alegria.

É como se toda essa bobagem que a vida se tornou não coubesse mais para eles. 

Vejo Paulo Gustavo olhando a gente lá de cima agora e gritando “VÃO A MERDAAA! RIDÍCULOS!”, usando unhas postiças e uma dentadura exagerada, seguido de uma gargalhada deliciosa mostrando a sua bondade careca, de cara limpa, mas com um chapéu estiloso.

Era o jeito dele ajudar a mudar um pouco tudo isso aqui. Debochar para fazer a gente acreditar.

Ridííííículaaaaa! Ele agora grita para essa vida. 

TOSCA! Ele berra pra essa gente toda que quer ter razão de tudo e voltar o mundo para onde ninguém mais merece estar.

A minha dor é porque lá se vai mais um pontinho fora da curva. Mais um que ousou não ser e que afrontou por simplesmente saber viver.

Sinceramente? Pena de quem fica.

Perdemos mais um pouco da possível leveza, de um cara que foi remédio contra a tristeza.

Que mostrou muito mais que qualquer bandeira.

Que ensinou o amor melhor que qualquer religião.

Paulo Gustavo não fez micagem, ele naturalizou nossa viadagem. Ensinou sobre toda forma de amor graças ao uso da arma sobre a qual ninguém consegue ter vantagem: o riso.

Sorte a nossa ter registro. Com o tempo, vou ver, rever e entender cada vez mais o que é não se preocupar em se encaixar.

E se isso acontecer, que a dona Hermínia venha me humilhar!

Sempre que eu deixar de gargalhar para me enquadrar ou segurar a minha capacidade de fazer rir para não desagradar, eu só espero que alguma nova histérica sensata apareça com seus bobes na cabeça e me dê uma COÇA!


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