O dom do domingo

 


Adoro o sábado mas posso te revelar qual é a melhor parte desse dia? Chega aqui… É que no outro dia é domingo.
 
Faz tempo que confessei essa alegria pelo considerado dia mundial da tristeza. A maioria das pessoas não gosta. Esse é mais um dos motivos de eu gostar tanto! Confesso também.
  
Domingo é o dia sem programas. Quando marcam algo, acaba logo. É como aniversário de criança com buffet servindo o salgadinho: aproveita porque tem hora para acabar. Quem gosta de um fervo, amorna no domingo. Quem adora fazer um convite, usa o pretexto do “outro dia a gente se vê porque amanhã todo mundo trabalha”. O domingo nos faz assumir a preguiça do excesso, de atividades e de pessoas. Há quem reconheça. Há quem não aceite de jeito nenhum. Bora pro bar!
  
Curtir o ócio é para poucos. Amar o silêncio da sua própria companhia é para quase nenhum. Confessar a devoção pela monotonia é para quem já morreu, vão dizer os descrentes.
  
Domingo o celular toca menos. Os arrobas postam menos, se permitindo ser alguém que seria vergonhoso ser em tempos quando quanto mais você postar, mais as pessoas vão engajar. 
  
Preferir sumir é algo que todo mundo fica inseguro de assumir.
  
O dia do descanso é o que mais bota a nossa cabeça para funcionar. A ausência de toda a badalação nos obriga a ouvir a nós mesmos. O que seria da gente sem um monte de reuniões e telas ao longo do dia? Seríamos nós mesmos, para o pavor de muitos.
  
A noite de domingo é perfeita para você se encarar. Eu prefiro trocar o verbo por admirar, curtir, apreciar. A síndrome da vinheta do Fantástico, conhecida por aterrorizar muitos desde a musiquinha de abertura do programa dominical da Globo, tem tratamento. Se aqui fosse espaço para mais um coach cafona dar receitas de sucesso, seríamos aconselhados a rever o nosso emprego e metas e planos de ação, supostamente prestes a recomeçarem dali a algumas horas com a chegada da segunda-feira. 
  
Acontece que todo trabalho vai ter gente tosca para lidarmos e toda semana vai ter a segundona, assim como o domingo.
  
Para quando você for colocado sozinho consigo mesmo, experimente se deitar e olhar para o teto. Se fechasse os olhos e se concentrasse em sua respiração, seria meditação, mas quem precisa de mais uma técnica para você se achar obrigado a aprender? Só deita. Só olha para o teto. Se for muito insuportável, ligue o ventilador de teto e olhe para ele ou para uma sombra ou um canto que junte o teto e a parede. 
  
A partir dali, viaje em você. Eu amo momentos assim para pensar na minha infância, nas pessoas que já conheci, roupas que já usei, locadoras de dvds e outras coisas do tipo que vivi e que nunca mais vão existir, lugares em que já estive e tudo o que eu ainda quero vivenciar no futuro com minhas ideias. Se coloque para sonhar acordado. Sonhar é tão gostoso. E todo sonho começa na gente, sozinho. Que outro dia seria mais perfeito para isso?

Comentários