Eu não sou CVV para me adequar a VC


Sábado saí para almoçar com uma amiga e não postei uma foto sequer – dentre as muitas sensacionais que só ela consegue fazer da gente. A discrição foi pelo motivo de sempre e que já estou extremamente cansado: a carência das pessoas e como elas depositam suas necessidades sobre a gente. 

É postar algo, às vezes só comentar o que fiz no fim de semana ou qualquer outro dia, que lá vem: “ah, com ela você sai”, “comigo você não pode ir”, “pra mim você não tem tempo”, “onde é esse lugar? Nossa, nem pra me chamar”. Dito e feito. Pois ontem (terça) postei uma roda de samba sensacional - que energia leve de gente livre reunida, sabe? - em que estive com uma amiga e lá vieram os comentários desse tipo. Acho que ver aquelas pessoas ontem, curtindo tanto sem olhar para quem estava em volta, também me inspirou e aqui escrevo para dizer que estou:

E

X

A

U

S

T

O

Em dezembro a coisa piora porque é confraternização em cima de amigo secreto emendado com “temos que nos ver para fechar o ano” – mesmo que a gente tenha se visto no 30 de novembro. 

Quem quiser achar que é estrelismo, manda ver! Aliás, outro dia comentei em um grupo de WhatsApp o seguinte: “quero dizer humildemente que não tenho mais dia livre à noite por enquanto” e o que eu recebi de volta foi “quem fala que vai falar humildemente não é humilde” – ou algo do tipo (rindo, mas com meu olho pulando neste momento). 

Aliás, meu estômago dói enquanto escrevo, meu peito aperta. Sério. Tudo isso porque fui criado para ser sempre o educadinho da turma, desde a infância – mas muita gente não faz lá o melhor uso disso (aquela história de dar a mão e a pessoa depois quer seu...). 

Pois este texto é minha libertação de qualquer assistencialismo que venham me cobrar. Anota aí: amizade é presente, não dívida. 

Linda de uma amiga que está no Brasil e me avisou numa ótima: “Ma sei que está corrido aí, então qualquer hora fazemos uma vídeo-chamada ou nos vemos em janeiro depois desse monte de festas”. Suave. Madura. Autossuficiente. Sem cobranças. Ou mesmo outra que ajeitou a data do seu open house sem neuras ou beicinho para todos se encontrarem quando desse certo. 

Até chegar a este desabafo, foi eita atrás de vixi. Uma pessoa diz que eu estou mudado, outra diz que eu estou estranho só porque falei que teria que ver o dia para nos encontrarmos – sendo ela do perfil que sai hoje com você e mais duas amigas e amanhã quer sair só com você. Real. 

Mudar é maravilhoso, gente! Experimenta e me conta. Principalmente quando isso acontece para não viver agradando aos outros. 

Pois aqui vão mais algumas: nem sempre eu vou abrir e fechar o bar, às vezes duas horinhas de boteco também são uma delícia, outras vezes, preciso, sim de dez horas em um churrasco; nem sempre eu vou beber só cerveja ou, pasmem, sequer beber álcool (uns quatro devem ter desmaiado com essa); nem toda semana eu vou ver a minha família, mas no WhatsApp estaremos sempre ali; há dias que começo a trabalhar às 10h, outros às 6h, às vezes trabalho no fim de semana, outras não trabalho em plena quarta. E por aí vai. 

Entre as muitas coisas que aprendi recentemente está a questão de eu não ter responsabilidade alguma sobre orientar as pessoas sobre caminhos que elas insistem em permanecer. Isso inclui suas formas de ver as coisas. Que cada um aprenda no seu tempo desde que não me incomode no meu templo (gargalhei com essa rima tosca e sensacional ao mesmo tempo!). 

Este tem sido um dos melhores anos da minha vida, por vários motivos. Tenho sentido uma realização que chega a me emocionar de felicidade. Lindo de quem sabe do que estou falando. E compartilhar isso é mais um passo na minha autorrealização. Mudar não só é maravilhoso, como fundamental e – como disse no meu último texto – deveria ser nosso principal pedido nesta vida. 

Mas mudar é para quem tem coragem de se encarar sem se escorar no outro. Do mesmo jeito que a melhor amizade é aquela que é formada por uma troca leve e sem cobranças vindas da própria vaidade.


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