Ideias para Olivínea

 


Te chamei de Olivínea desde a sua chegada e talvez te chame assim para sempre, como um lance nosso, porque todo mundo que eu amo de um jeito diferente ganha um apelido do tipo. 

Falando em para sempre, pareceu uma eternidade até eu te pegar no colo. Demorou dois meses. Aconteceu para a nossa primeira foto, no seu mesversário com tema de Amor, Cupido, Corações, Namorados e outros derivados que sua vó inventava mês a mês fazendo a decoração ela mesma quase sempre, atendendo ao pedido mensal da sua mãe. Eu já estava ao lado da mesa do bolo quando sua mãe te botou no meu colo com toda a praticidade que ela tem, do tipo Vai, Matheus, pega ela para tirar a foto! 

Antes disso, era só um Oi, Olivínea, meio de longe, seguido da pergunta Qué pasa?, num espanhol meio tosco, meio fofo – que seu vô repetia aos berros, todo animado. Nosso abraço demorou esse tanto porque você nasceu dois meses depois de anunciarem a necessidade de isolamento social por causa da pandemia causada pela Convid-19. Somente seu pai pôde acompanhar o seu nascimento e ficar no quarto com sua mãe. Sem visitas. Ninguém mais entrou no hospital. Durante o parto, eu estava trabalhando em home-office e perguntando via whatspp se tinham alguma novidade. Costumo ser calmo e paciente em situações como essa, mas seu parto atrasou muito porque a sala de cirurgia não estava pronta (cenário da pandemia foi um caos no início) e seus pais aguardavam junto de um casal de lésbicas que também se preparava para dar à luz. 

Seu vô estava trabalhando também e sua vó era nossa mensageira enquanto esperava na calçada do hospital com minha tia, irmã dela – que neste dia chegou a implicar com um mendigo que passava por ali, como se todos já não estivessem tensos o bastante (esta é uma entre muitas situações que sua vó aguenta e você vai saber com o tempo). 

Registrada sua chegada nesta vida, quero compartilhar o pouquinho que sei sobre isso aqui – o que espero que a gente também compartilhe em meio a brincadeiras e outros programas – do mesmo jeito que já conversamos, de certa forma, toda vez que você grita Didú! e eu respondo com um Uh-ú! – e aí você nunca mais para de repetir isso para eu responder de novo e de novo e de novo. 

Você vai aprender muitas coisas com família, amigos, professores, paixões e outras pessoas que passarão pela sua vida, mas nada disso precisa te definir. 

Você é quem você é. Esse é o melhor jeito para viver e se realizar. É o jeito mais gostoso, que vai deixar tudo mais leve, natural e espontâneo. 

Como saber se está vivendo de acordo com isso? Anota aí, Olivínea: tudo o que não é seu, que não é de você ou o melhor para você vai te causar algum tipo de incômodo, de desconforto, de forçação de barra. Você vai sentir. E se insistir, essa falta de encaixe vai aumentar até você mudar o que precisa para se realizar. 

Quando não souber o que fazer ou não conseguir entender, é só se sentar ou se deitar em silêncio e perguntar em pensamento para si mesma: o que é que eu gostaria de estar realmente vivendo? O que eu preciso mudar para me sentir melhor? A resposta vai estar aí. 

Com esse conhecimento, você vai ver, você pode ser tudo o que quiser ser – inclusive mudar isso sempre que achar que não lhe cabe mais. 

Use as referências que recebe mas não seja nenhuma delas, adapte-as para quem você é, para que elas se adequem a você e não o contrário.
 


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