Nossas plantinhas

 



Domingo de eleições foi uma agonia para mim. Pela primeira vez na minha vida acompanhei a apuração e, das seis da tarde às oito da noite, uma ansiedade louca tomou conta de mim, me deixou extremamente inquieto. Passada a novidade emocional, pensei, pra quê?
 
O acontecimento foi inédito porque esta foi a eleição em que mais me envolvi e, de certa forma, militei. Enquanto caminhamos para o segundo turno, decidi voltar a ficar mais paradinho, como sempre fiz. Na segunda-feira pós domingo de votação, abri o dia deixando de seguir perfis de notícias no Instagram – imediatamente meu feed voltou a ser dominado por conteúdos da cultura geek e alguns homens usando pouca roupa. Que paz. Aqui, sim, voltei a ver um pouco de representatividade, no lugar de pesquisas de intenção de voto, denúncias e ataques de um ser humano para o outro.
 
Para meu próximo date com a urna eletrônica, darei meu voto mais uma vez em vez de anular como já fiz em outras épocas, mas, o resto não é comigo.
 
Esse sentimento de “só vou até aqui” é o mesmo que senti ao esperar meu namorado sair de uma cirurgia que era para ter durado cinquenta minutos e ele sumiu por quase quatro horas. Em cada canto que eu perguntava por ele naquele hospital enorme, ouvi um “só sabemos que ele ainda não foi para o quarto” – isso quando alguém conseguia me dizer isso em vez de “tô ligando no andar e ninguém atende”.
 
Chegou um momento que eu abri um livro e pensei: agora não é mais comigo – como se em algum momento aquilo estivesse nas minhas mãos. Isso me deu paz, como me dá agora.
 
Eu sou uma pessoa de comunicação e me dedico a ela para transformar tudo o que eu posso, de acordo com o que eu acredito que vai contribuir para alguém (entenda contribuir no sentido de abrir a cabeça para o coletivo e o autoconhecimento), mas, nem sempre isso vai ter efeito – pelo menos naquele momento. E colocar energia demais nisso é perda de tempo e pode ser muito frustrante.
 
Sempre vou me posicionar quando couber, sem forçar, sobre tudo que eu achar que posso ajudar. Nunca fui da linha “isentão” porque nunca tive medo de levar pedrada ou, como já ouvi, me “fecharem as portas”. Porém, sei que posso comunicar mas não modificar. Essa é a medida.
 
Preciso, pouco a pouco, entender que tenho a capacidade não de plantar uma semente, nem isso, esquece, mas de entregar a semente para que o outro plante, se ele quiser. E ele que cuide dela dali pra frente. Eu já tenho minhas próprias plantinhas para cuidar.
  
 

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