O melhor pior ano da minha vida

 



Enquanto escrevo, sei que, naturalmente, um avião pode cair na minha cabeça aqui no escritório ou uma explosão provocada por um celular ou algo do tipo atingir alguém que eu amo.

O entendimento dessa possibilidade de um jeito tão real é recente, resultado das porradas que levei esse ano. 2023 foi o melhor pior ano da minha vida. Nesses 26 dias que ainda restam para a virada, muita coisa pode acontecer, mas uma paz muito profunda toma conta de mim. É a cicatriz formada, aquela que protege e nos lembra o aprendizado, nos deixando um pouco mais preparados para o que pode vir.

O que começou com o fim de um relacionamento, foi sequenciado com coisas que nunca tinham acontecido comigo, com a minha casa, carro, família e amigos. “Eita atrás de Vixi” é pipoca com caramelo perto do sequencial de alguns períodos desse ano – que também me trouxe coisas maravilhosas, como o nascimento da minha segunda sobrinha, viagens, momentos inéditos com os amigos, bons beijos, clientes e um novo eu cuidando de mim com seu olhar mais experiente.

A palavra “melhor” vinda antes de “pior” no título desse ano é porque o que veio de ruim me trouxe muita coisa boa, entre elas, um entendimento do quanto precisamos uns dos outros como pessoas frágeis que somos, de como a humildade é a primeira colherada que alimenta o amor em todas as suas formas, de que temos controle sobre quase nada e, finalmente, que nosso jeito de ver as coisas realmente influencia tudo que nos acontece.

É difícil quebrar o ciclo de acontecimentos merdas quando seu pensamento não sai da bosta e acaba nos colocando em uma diarreia infinita.

Mas tem que ter esforço. Sofra, mas não viva no sofrimento. Conte com sua família, amigos, terapia, meditação, taça de vinho e banho quente com uma boa música, mas levanta da cama e vai quebrando esse sentimento a cada café passado, dente escovado, roupa recolhida e planta regada.

Caminha que o caminho se abre.

Para exemplificar o lance dos pensamentos, antes de chegar ao escritório e começar a escrever, um carro cortou a minha frente quase provocando uma batida. Tempos atrás eu ficaria puto e descrente da humanidade. Hoje, exatamente uma hora atrás, eu só agradeci por não ter acertado o meu pratinha cuja placa já retrata bem o sentimento geral do que pode ser a vida: CUH.

Esse ano me trouxe de volta para o olhar prático que sempre tive e que, por me envolver demais nas promessas, havia me esquecido: relacionamentos também acabam simplesmente porque alguém pode perder a vontade, sem ninguém ter culpa disso.

Entre um pouco de ceticismo e excesso de entrada em estudos da espiritualidade, chego em dezembro com um equilíbrio gostoso, sabendo que não precisamos de muito para estarmos em plena sintonia com Deuzaço. Basta estar conectado consigo mesmo e com a boa intenção em tudo que fazemos. Servir ao outro, da forma que pudermos, nos traz muito mais que pedir ao pappy do heaven.

Meu maior presente neste momento é a minha leveza e riso, com certeza. Conseguir olhar para o dia e curtir cada bobeirinha dele, fazer piada, amar o que sou e tudo que tenho.

Novas experiências deliciosas virão. Novos perrengues também. Se 2024 vai ser melhor ou pior que 2023, não sei. Só sei que tudo que vivemos nos prepara para mais um pouco daquilo que está por vir e o nosso principal exercício é nos cuidarmos para manter a vontade de viver tudo isso.
 
(Texto publicado em 5 de dezembro de 2023 no Instagram)

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