Enquanto penso sobre o que escrever, com o notebook no colo na cama, meu namorado está deitado ao lado - e essa primeira frase do texto ele já leu enquanto a escrevia… enquanto ele dizia “não vou ficar lendo”.
Agora ele parou. O jogo no Nintendo Switch no colo dele, venceu. A vontade de ele me deixar à vontade para escrever, venceu.
Aos dois meses de namoro e quase quatro desde que nos conhecemos, pouco a pouco algumas exposições surgem em meio às nossas conversas, em meio às conversas com as famílias e os amigos na turnê de integração do recém-chegado na vida do outro.
Esse período é sempre um tira-teima na relação porque é quando alguns capítulos embaraçosos surgem e a gente nunca sabe qual vai ser a reação deste certo alguém.
Quando um dos dois publica um livro, essa exposição pode, digamos, ganhar uma proporção que muitos casais não viveriam ao longo de uma vida inteira juntos.
Com a chegada do livro Do Fundo da Caneca, grande parte do meu passado está registrado ali. São páginas que falam de comemorações, paixões, aflições, mudanças e confirmações sobre quem eu sou, sobre quem eu já fui.
Isso me colocou para pensar sobre a importância de reconhecermos o que já vivemos e, mais que isso, o quão fundamental é compartilhar isso com quem a gente deseja viver.
Isso porque tudo se torna mais inteiro quando compartilhado.
A relação ganha ainda mais consistência.
O amor passa a se expandir sem resistência.
Em tempos de seleção de pessoas por suas fotos e algumas frases clichês nas redes sociais e aplicativos de relacionamento, fica um pouco mais fácil construirmos a imagem que quisermos para convencer o outro de que o que não está postado, não existe.
Tudo com filtro. Tudo bem triste.
Ser admirado em sua vulnerabilidade é a maior prova de amor que alguém pode oferecer.
Mas para que essa entrega aconteça, é preciso coragem. E talvez essa coragem de se mostrar por inteiro para o outro só seja possível se houver um passado bem vivido, bem resolvido.
Se a gente atrai aquilo que a gente é, essa pode ser a receitinha para encontrarmos alguém que nos leia sem tentar rasgar o que fomos.
No fim das contas, o amor não é sobre o que a gente escolhe publicar. É sobre quem se interessa por você além da sua capa. Quem, mesmo depois de ler você por inteiro, faz questão de te carregar consigo e ainda te oferecer novas histórias.
Comentários