“Você fez café?' deu lugar a 'você não vai arrumar este cabelo para ir trabalhar?" |
“Casa comigo que eu te dou casa, comida e
roupa lavada”. Seria bom demais saber que esta jamais seria a moeda de troca de
uma mulher para seu pretendente. Apesar de esta devoção toda estar menor hoje,
ainda há muitas que dizem “sim” felizes da vida por concordar em cozinhar todos
os dias.
Enquanto elas batem cabeça na tentativa de
descobrir quais são suas reais “obrigações” e possíveis prazeres no casamento,
os homens parecem ter isso muito bem digerido: o que muda é que agora quem dobra
as minhas camisas não é mais a minha mãe, mas continua não sendo eu.
A última que li dizia que o maior motivo de
os homens casarem é a busca pelo “sossego de uma casa no fim do dia, uma vida
menos agitada”. Faz sentido, afinal, ainda é minoria os homens que projetam sua
imagem no altar para que o universo o envie isso de volta como desejo
realizado.
Entre esta e outras, homens parecem sempre
mais certos do que serve ou não para eles. E não há livro, mãe ou revista para
o público masculino que dite regras que os convençam – talvez um amigo de bar
consiga. Difícil. Mesmo o conceito de “casa comigo que eu te dou...”, nada
feito. Eles têm convicção de que sempre há alguém para dar algo a eles assim que
pedirem.
Talvez há vinte anos a função “mulher de
senzala” funcionasse. Mas depois do que ouvi de duas amigas, imagino que esta aí
começou a perdeu força há, pelo menos, dez anos.
A fôrma da lasanha de domingo agora pode
ficar com água na pia e ser lavada só na terça-feira à noite. A massa era
congelada, preparada em microondas? Tudo bem. Se não houver camisa passada, ele
agora coloca uma camiseta mesmo, ou até topa a amarrotada por baixo do paletó.
Pegam leve sobre “casa, comida e roupa”. Liberam até o pagamento da empregada. Mas
eis que vieram as novas exigências e, óbvio, não são sobre eles mesmos.
As confissões das duas amigas – uma casada
há pouco tempo e outra que me entregou o convite da cerimônia/mapa-da-festa há
poucos dias – são sobre a pressão dos jovens maridos para que elas os sirvam com
suas vaidades. E só. “Aquerdita?”.
Loucas pela manhã, ao saírem de casa para
não se atrasarem para o trabalho, a pergunta “você fez café?” deu lugar a “você
não vai arrumar este cabelo para ir trabalhar?”. A roupa justa agora é
compreensível se combinada com bom gosto a uma maquiagem que valorize a
recém-recebida esposa. Que esteja de acordo com seu cargo na empresa.
“Eu até entendo que haja menos comida
caseira, pois sua rotina está puxada, minha linda, mas veja se consegue fazer
um exercício, pois está bem cheinha”, e coisas do tipo. Dá-lhe roupa acumulando
para lavar, mas tudo bem para os novos maridos.
Será que um dia este jogo vai realmente
virar e quem deverá pensar bem no que pode oferecer passará a ser o homem? Acho
mais fácil o casamento conservador ser reconhecido pelo Papa como instituição
falida e sem fundamento.
A cobrança pela vaidade feminina sempre
esteve no topo da lista dos barões, mas vista grossa para as tarefas das
diaristas é coisa mesmo dos novos maridos.
Comentários