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Até que ponto vale a pena fazer as coisas por falta de argumento em vez de seguir seu próprio gosto para as coisas da vida? |
O que o cabeleireiro disse na conversa
entediante de nosso último encontro, me incomodou. Passou do ponto chato de ele
achar que deve puxar assunto comigo enquanto borrifa água em meu cabelo e
chegou ao “eu não acredito que ele disse isso”.
Na verdade, foi só mais uma confirmação.
Não deveria me surpreender. Neste mesmo bairro deve haver, pelo menos, trinta
salões dos quais vinte e nove proprietários como ele devem achar que a vida não
faz sentido se não tivermos filhos – a exceção deve se chamar Margô e ser uma
dona de salão de beleza porra-louca-bem-resolvida que curte conhecer novos
motéis com seu namorado mais jovem.
Mal começou com a tesoura e minha vontade
foi levantar da cadeira e ir embora quando o meia-idade soltou, “ah, mas essa
coisa de viver pra gente cansa. Aproveitei muito a minha juventude (todos os
adultos com algum tipo de frustração por sua situação atual dizem isso
repetidas vezes). Mas logo virá a vontade de casar e ter filhos”.
Rá! “Pois é, a maioria segue isso, mas eu
não me vejo cansado por viver para as coisas que realmente gosto”, respondi no
ápice da minha unção.
No trabalho, um colega me pediu opinião
sobre um assunto e logo depois de eu comentar, acrescentei: “o principal é não
forçar a barra”. Está aí. Ponto pra quem capta.
Nada pior que aquela conversa da tia sem
recursos que diz que “pé de pobre não tem número. Se é calçado doado, tem que
servir”. Desculpe-me, tia, mas não tem, não.
Até que ponto vale a pena fazer coisas por
falta de recurso ou argumento em vez de seguir seu próprio gosto para as
oportunidades da vida?
Admiro demais a amiga que recusou a
proposta de um cargo de gerência por achar que aceitá-lo seria embalar no que
todos querem e ir contra os valores com os quais ela tem afinidade.
Que saudade daquela que, depois do
casamento convencional com um cara tosco, se divorciou e hoje é feliz morando
com um tatuado boa praça que de vez em quando recebe na casa deles os filhos do
primeiro casamento para o fim de semana – mas ela tem muito claro que engravidar
ela não quer.
Vontade de tomar um café com outra amiga
que, após quase dez anos de namoro, terminou por perceber que o conservadorismo
do rapaz limitaria seus projetos pessoais. Tem que dar? Agir conforme a moda
não dá.
Tem que morar junto? Tem que casar? Tem que
dar? Que nada. Perco a paciência ao ver pessoas enchendo o Facebook de juras de
fidelidade e família feliz “marcadas” para seus parceiros na tentativa de
forçar uma situação em um relacionamento cheio de problemas, enquanto todos os
outros da rede social tem que fingir que acham aquilo uma prova válida de amor.
Tem que dar? Autoafirmação não dá.
A revista Época trouxe a excelente capa
“Filhos e felicidade – As crianças deveriam tornar a vida dos casais mais
feliz. Por que nem sempre é assim?”. O elogio é pela serenidade da matéria em
dizer que as pessoas seriam muito mais felizes se seguissem seus próprios
princípios em vez de entrar no que é ditado pela sociedade sem antes se
perguntar se realmente servem para aquilo. E mais: fala sobre a dificuldade que
as pessoas têm em reconhecer as frustrações que surgem no casamento tradicional
e na criação de um filho.
O “agora comecei, então tem que dar certo”
nunca foi esteve sem lógica e ao mesmo tempo tão em alta. Uma pena.
VJVJVJVJVJ
Pode comentar, VIU?
VJVJVJVJVJ
Comentários
Li também a matéria sobre as Clínicas de Sexo tântrico e postei no BEM AQUI... um pequeno tratado sobre o sexo ao longo da história, chegando aos dias atuais, com o sexo virtual e o comércio agora "inovando" com o sexo pago pelo massagista "tântrico"...enfim, passe lá quando puder. É um convite.
Um beijo grande!
eu tinha CER-TE-ZA que você diria isso sobre ter filhos hoje. Estes dias lembrei de você pois minha mãe (a de sangue hehe) disse que hoje ela não casaria para morar junto. Pronto! Veio a lembrança da mãe de blog.
Passei o olho na matéria sobre sexo tântrico, mas ainda não consegui ler. De qualquer forma, vou me organizar para retomar as visitas a seus textos.
Um beijão. Adorei.
Tatuaria o "aquele Chanel que ficou chique e moderno na sua colega de setor, pode ficar esquisito e pouco prático pra você".
É identificação demais, né, Li?
Tão bom ter uma amiga assim por perto...
Um beijo.
adorei o texto. Támbém me pego muitas vezes inconformada com esse bando de 'maria vai com as outras' que nos cercam. Socorro!! E aí da gente quando diz alguma coisa diferente, da-lhe ouvir: 'Ah, mas você vai ver daqui uns anos', 'É porque ainda não chegou a hora' e por aí vai.
Sei lá, eu nunca brinquei de mamãe e filinha! (Talvez nunca seja muito fornte, mas tenho certeza que não era minha brincadeira favorita, era chato..rs Minhas brincadeiras eram de ser mulher independente, trabalhar, viajar!) Bom, se as pessoas se preocupassem em descobrir o que elas realmente da vida ao invés de ficarem repetindo feito papagaio o 'que todo mundo faz' ou o 'que é normal', as pessoas seriam mais felizes!!
beijão pro c!
Estas que citou – "Ah, mas você vai ver daqui uns anos', 'É porque ainda não chegou a hora" – também são clássicas e tão chatas quanto a do cabeleireiro.
Concordo demais quando diz que se as pessoas fossem mais originais, seriam mais felizes.
Um beijão! Thanks.
Mas em qustão da matéria, realmente essa questão dos filhos é complicado pra qualquer um. Eu sou casada e tenho uma filha linda de 4 anos, confesso que no começo tive muita dificuldade, mãe de primeira viagem recem casada, mas foi o que fez eu me meu marido ficarmos mais juntos, sempre tomando as decisões juntos, filho é pro resto da vida, não tem como dizer que hoje quer e amanhã não quer mais.
Mas pra mim foi uma dádiva.
Também adorei os posts do seu blog.
Bjkas :)
Pois é, nada demais em reconhecermos nossas dificuldades. Natural que existam.
Um beijão.