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Trata-se de um caminho sem volta e Joseph Alois Ratzinger, aos 85 anos, descobriu isso |
Estou
sozinho nesta ou as pessoas realmente não estão tão surpresas com a renúncia de
Bento XVI em plena Quarta-feira de Cinzas? Sim, a notícia de que o agora
ex-papa abdicou do posto foi inesperada, mas não ouvi um sequer “gente, estou inconformada!”
daquela vizinha católica que passa as manhãs de domingo na igreja do bairro. A
imprensa repercute o assunto enquanto faz previsões sobre o novo líder da
Igreja Católica, mas também não há manchetes que usem palavras como “polêmica”
e “escândalo”. Será que o fim do catolicismo tradicional é algo já reconhecido,
porém, não assumido?
Pessoas
se casam na Igreja sem ao menos saber a ordem daquela sequência de sinais da
cruz feita quando o padre solta o “proclamação do Evangelho”. Vai! Começa na
testa, passa para a boca e termina no peito!
O
catolicismo, como muitas outras religiões, simplesmente não faz sentido.
Condenar o uso de camisinha, a prática do aborto, da eutanásia e das relações
homossexuais é assinar o Atestado de Sem Noção quando a proposta é recolher
dízimos para manter o ouro todo do Vaticano. Trata-se de um caminho sem volta e
Joseph Alois Ratzinger, aos 85 anos, descobriu isso.
O
episódio me lembrou o professor de um curso de comunicação que fiz. Ele dizia
que hoje é impossível o profissional desta área negar o uso de tablets e
smartphones. Eu resisti. Por muito tempo mantive o celular apenas para efetuar e
receber ligações, enviar e receber mensagens – ah, e a agenda de contatos que
era ótima!
Um dia, mordi a maçã. Comprei o iPhone. Entre os maiores motivos
para eu abdicar daquele teclado analógico, esteve a necessidade do uso da internet
em duas situações com o presidente da empresa em que trabalho e eu ter que
responder: “vou ligar o notebook pois meu celular ‘está’ sem rede”.
Por
quanto tempo conseguimos rejeitar comportamentos, ideias e situações que surgem e funcionam naturalmente graças às mudanças do mundo? Esperto será o papa que encontrará uma
brecha na Bíblia para dizer que “um homem deitar-se com outro homem” é parte da
natureza humana. Ou que o sexo é uma forma saudável de se obter prazer sem a meta procriação.
Há
igrejas evangélicas na capital paulista que já realizam casamentos gays. Resultado
de pastores e bispos evoluídos espiritualmente? Não. Da necessidade de manterem suas contas
bancárias gordas diante de uma sociedade que cada vez menos se encaixa em
regras criadas no interesse destes caras.
Bento
XVI, enquanto papa, apenas desculpou-se pelos casos de pedofilia comprovados em
países como Estados Unidos, Irlanda, Alemanha e Bélgica, envolvendo colegas do
clero. Entre os participantes do conclave para a escolha do novo líder
religioso, está Roger Mahony, um cardeal americano que reconheceu ter
acobertado centenas de casos de abusos cometidos por padres de sua região desde
os anos 80. Este “ser” chegou a transferir os tarados para paróquias em outros
Estados para dificultar as investigações. Agora o fofo vai dar seu voto na escolha
do novo papa.
Entre
outros, tem também o padre mexicano morto em 2008, Marcial Maciel, fundador da
ordem Legionários de Cristo, que engravidou várias mulheres e violentou
discípulos, coroinhas e até dois de seus filhos.
Há
os seguidores que extraem das religiões apenas aquilo que lhes faz bem e
reconhecem os métodos sem sentido. Isso até inclui alguns líderes. É o caso de
Vicenzo Paglia, ministro do Vaticano para a Família que já se colocou a favor
dos direitos civis para gays – interessante pra ele?
Bento
XVI sabe deste e de outros posicionamentos progressistas. Da mesma forma que
talvez tenha finalmente entendido que estava sozinho ao ignorar o lance de que muitas
questões que a Igreja Católica luta contra já são parte da sociedade. A grande
novidade é que a maioria das pessoas já não veem problema algum nestas mudanças
e a desistência do papa é a maior prova disso.
Comentários
assim como você vejo as posições da igreja católica como anacrônicas, pra dizer o mínimo.
Espero que essa renúncia de Bento XVI de fato marque um momento de reconhecimento do fracasso da igreja em lutar contra as mudanças que a sociedade como um todo, em maior ou menor grau, já incorporou como normal.
abraço
Enquanto isso a gente assiste e faz a nossa parte.
Beijão.
E qual seria o outro meio de enxergar toda esta realidade?
Crítica válida, mas, se puder e quiser, fique à vontade para colocar o seu ponto. Seria interessante conhecer.
Obrigado pelo comentário e visita.
Com a politização das coisas, o homem deixou de ser visto como uma alma imortal, que responde por valores que transcendem o âmbito social (tão idolatrado pela esquerda), e passa a ser reduzido como um ser social, um ser político, com uma função social.
Assim sendo, todos têm o dever de, como seres sociais, cumprirem suas funções sociais rumo ao “progresso da sociedade”, o “mundo melhor”, ou seja, o mundo que deixou de ser compreendido a partir de Deus (que é eterno e, frisa-se, imutável!) para um mundo que será construído pela humanidade.
Valores como “justiça”, “igualdade”, “excluídos”, “marginalizados”, “oprimidos”, “liberdade” são palavras que circulam nas ideologias modernas, formando a estrutura de pensamento. No Brasil, raramente encontra-se alguém que não pense assim. Não se encontra alguém que conheça a tradição Ocidental desde a sua Antiguidade Clássica, passando pela Patrística e culminando na metafísica cristã, que teve como expoente a escolástica com a filosofia de São Tomás de Aquino.
O Ocidente moderno despreza sua tradição que, até a modernidade, unia razão e fé. A filosofia Kantiana ajudou a romper com isso, inaugurando uma era em que o homem fechou-se em si mesmo.
Concordo como a nova forma que o homem se transformou – e ainda se transforma – neste âmbito social.
Mas será que isso não seria inevitável, natural, diante das mudanças que, também naturalmente, ocorrem?
Bacana a analogia, mas discordo com qualquer posição que afirme que algo é imutável.
Por outro lado, concordo sobre a tendência do homem em fechar-se em si mesmo – e no geral não acho que isso seja ruim.
Muuuito obrigado de novo, Jean!
Grande abraço.