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Pela jornalista e tradutora,
Viviane Martines Riitano
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Uma das coisas que
mais me surpreendem nesta vida é saber que o mundo não para. Óbvio? Sim, para nós que estamos bem,
esperando o relógio marcar o horário de saída do trabalho, a sexta-feira, o
feriado, o 13º... É realmente excelente que o mundo não pare.
Mas, para quem é
engolido pelo olho do furacão de uma tragédia é quase que inaceitável que o
mundo não pare. Recentemente minha mãe esteve à beira da morte. Do dia para a
noite, da mesma forma que milhões de pessoas saudáveis caem doentes, se
acidentam, têm suas vidas tiradas pela violência ou são vítimas do imponderável
da vida, minha família que, sempre esteve lá do mesmo jeito, sem grandes
alterações, foi atingida.
No dia seguinte,
minha vida estava aos pedaços. Nada do que eu conhecia como rotina, vida ou
normalidade existia. Porém, tudo a minha volta continuava lá. As pessoas
continuavam indo ao shopping, trabalhando, discutindo, namorando e eu me
perguntava: “Como assim? O mundo não acabou? A vida não parou?”. Não.
Aquela dor imensa,
aquele medo paralisante iam comigo conforme eu executava as coisas mais
rotineiras do dia. E o sol insistia em nascer naqueles mais de 40 dias de UTI.
As primeiras doze horas críticas, segundo os médicos, também incluíam levar as crianças
ao colégio, abastecer o carro, a hora do almoço chegava, a noite caía, o
jantar, as contas embaixo da porta, antipatias antigas, amizades, tudo,
absolutamente tudo continuava lá. Para falar a verdade, em determinados
momentos a gente até tem uma pontinha de raiva do mundo... Será que ninguém vê?
Será que ninguém sente? Temos vontade de gritar e espernear, mas o trabalho nos
espera, as crianças dependem de nós e continuamos rodando, rodando, rodando com
o mundo mesmo sem querer.
Quando tive notícia do
acidente com o avião da Chapecoense, pensei: hoje o mundo de 77 famílias parou.
E não há nada que possamos dizer ou imaginar que possa chegar aos pés do que
essas famílias estão sentindo e sentirão até que seus mundos voltem a girar.
O que nos resta é fazermos
velhas perguntas em relação aos nossos valores, às lutas que escolhemos e à
maneira como nos tratamos... E de novo dar uma voltinha pelo óbvio.
É óbvio que devemos dar valor a quem amamos, é óbvio que cada minuto que vivemos nos aproxima mais da morte e que
estamos nos debatendo para consumir cada vez mais “coisas” enquanto nossos
filhos, pais, mães, irmãos e amigos se sentem tão perdidos quanto nós, tão
sozinhos quanto nós. É óbvio?
Bem, a viagem que nos
levou os meninos da Chapecoense coroava o momento de maior sucesso da vida do
clube e dos seus jogadores. Ninguém ali estava exatamente “por baixo na vida”.
Portanto, a única reflexão que nos resta é a de que nossa condição de mortais é
a mais poderosa de todas e a mais democrática. Ela não respeita sucesso nem
fracasso, não vê raça nem gênero e é a única que em sua essência nos lembra do
quanto somos iguais e frágeis.
Não podemos nem por
um segundo pensar que o jogo está ganho, que as coisas vão ficar como estão,
pois a realidade é que nossos míseros minutos neste planeta são efêmeros e tudo
pode mudar e invariavelmente VAI MUDAR.
Minha mãe ainda está em fase de recuperação. A
gratidão por isso é imensa e as mudanças também. Nem um dos meus segundos depois
do dia que ela adoeceu foi igual, nada foi igual, eu não sou igual. Não podemos
deixar que as tragédias da vida sejam apenas tragédias, elas devem valer como
lições, daquelas tristes, doloridas, porém válidas, pois se assim não for nos
resta apenas o sofrimento.
Nem por um segundo
fomos capazes de estimar o que aconteceria com aquele avião mesmo sabendo que
sim, obviamente, poderia acontecer;
exatamente por isso, nem um segundo deve ser desperdiçado, pois a beleza da
vida também reside em saber que todo
segundo tem a potencialidade de ser incrivelmente feliz.
~D|caneca~D|caneca~D|caneca~D|caneca~D|caneca~D|caneca
*** Deliciosa colaboração da amiga talentosa, quem se dedica toda semana a me fazer aprender espanhol – enquanto eu pareço um retardado tentando falar o idioma: a Vivi. Muito obrigado pelo texto, minha lindíssima. Você manda bem demais em tudo o que você faz. Que a gente sempre se borre de rir. O Caneca também é seu!
~D|caneca~D|caneca~D|caneca~D|caneca~D|caneca~D|caneca
Comentários
Só nos resta até lá, saber aproveitar os segundos como se fossem únicos, e são ❣
Textos sempre maravilhosos dessa mulher que admiro muito!
Sucesso sempre Vivo!!!
Matheus, depois que a Vivi nos apresentou o blog, entro p me distrair sempre.
Vc arrasa, é muito bom!
Sucesso a ti tb!!!
Vamos aproveitar a vida enquanto há, pois o instante seguinte não sabemos como será.
Adorei, Vivi!
Sucesso!!!
Beijos
Beijoss
Bom demais, pessoal. MUITO OBRIGADO pelos comentários. Merecidos para a nossa amiga, Viviane. O texto é um charme, super sensível e pé no chão.
Marina, fique sempre à vontade demais para voltar aqui no Caneca e curtir, distrair, comentar!
:) <3
Sempre me ponho a refletir sobre isso. Eu não tenho medo de partir daqui, mas todos os dias me pergunto: será que é hoje o dia mais feliz da minha vida?
Isso me faz aproveitar mais o meu tempo. De uns tempos pra cá deixei uns medos de lado também. Isso me ajuda a viver mais feliz.
Parabéns pelo texto, Viviane!
Bjs, Matheus!