Me mantenha fora d'água



"Você tem um minuto para tomar um café?". É a pergunta que solto no meio do expediente quando preciso falar algo em particular com alguém da equipe no trabalho, geralmente para dar um toque sobre algo errado, uma notícia boa ainda em vias de ser confirmada ou a atualização de algo que foi tratado em particular desde a primeira conversa. Dessa última vez, foi para dizer o quanto uma pessoa é fabulosa, não no desempenho nesse momento, mas em quem ela é.

Funcionária e amiga, eu disse tudo: o quanto ela é forte diante de tudo que ela tem passado nos últimos anos, deixei claro para ela as decisões que ela tomou sozinha, sua independência, as imaturidades que ainda surgem vez ou outra, mas, acima de tudo isso, o quanto ela leva a vida com leveza e otimismo, sem carência ou vitimização de muitos outros com quem convivo. Admiro. Vejo. Me inspiro.

Falei de graça. Fui o Matheus-Matheus, não o Matheus-Gestor, aliás para mim, essa divisão não existe. 

Falei porque quis quebrar o protocolo, tirar a cabeça de baixo d'água. Pois quando estamos imersos, seguimos na surdez, no padrão.

Em uma véspera de feriado, compartilhei com uma amiga: "acho que estou com sinais de depressão...". Logo ela me mostrou que não era o caso. Minha desconfiança foi porque era noite de uma segunda-feira, feriado na terça, e eu estava em casa com vontade de ficar por lá enquanto insistiam para eu ir para um bar. E assim foi no sábado e no domingo anteriores. Uma preguiça sem fim de ver gente, de ouvir asneiras.

Antes mesmo de começar a escrever este texto, vi que tinha um grupo no wts com 28 mensagens não lidas. Ao passar o olho, os comentários eram de zoeiras bobas sobre eu dizer que tenho preferido ficar em casa mas postei uma foto que me mostrava na rua esta noite. Só passei o olho. Postei um coração ao final da imensa conversa entre os outros do tal grupo.

Diferente do que pode parecer, estar submerso é ir no embalo, no automático, reagir por educação o tempo todo, se calar para tolerar... Eu coloco a minha cabeça fora d'água e digo o que está pegando.

Meu melhor amigo conta versões sobre a sua vida, as quais eu não acredito serem suas verdades. Na família, rodeios e excesso de zelo para conversar às claras sobre o que é preciso e que, eu acredito, que pode ser resolvido de forma simples. Eu fiz Jornalismo não para ser o próximo Bonner, mas para trazer técnica para uma comunicação que eu sempre soube que foi parte de mim e que pode operar milagres - e eu não estou falando dos pastores e outros comunicadores que usam disso para benefício próprio. 

Nada me irrita mais que pessoas carentes. E as pessoas são carentes. Dia desses um cara me mandou uma mensagem dizendo que esperou o meu "Oi" a semana toda. Que eu poderia ter, no mínimo, perguntado "Tudo bem?". Eu respondi que não enviei algo porque não tive vontade, não tinha o que dizer. Depois disso fui humilhado - de novo - em mensagens de texto, foi de "meia-idade mal resolvido" para baixo. Acho até graça. Respondo sempre com um "Ok". Apenas como confirmação de leitura. Dizer o que? Há quem se incomode porque não foi convidado para algo que outros foram. Ou que não têm algo que a maioria tenha. Honestamente, não entendo. São coisas que jamais me incomodaram. Pelo o contrário. Nado contra a corrente.

Genuinamente, pare esta leitura por um instante, coloque sua cabeça para fora d'água, respire fundo e olhe ao seu redor. Pense em tudo com relação a você... Agora responda: o que na sua vida não é resultado de uma escolha que você mesmo fez?

Quem não resolve, só se afunda.

Peço a Deus que mantenha a minha cabeça fora dessa água que as pessoas usam de desculpa. Só assim conseguirei ver com clareza. Só assim estarei comigo, sem a pressão que ficar submerso faz contra os nossos tímpanos e pensamentos.

Quero chegar em casa depois de beber algo e colocar uma música para curtir no chuveiro. Quero estar com quem eu quero estar. Ajudar quem realmente pede por ajuda e não apenas te procura para reclamar. Me doar para quem vai entender essa troca. Ouvir quem realmente quer contar comigo. Quem quiser nadar até a borda, eu espero poder, no mínimo, torcer por essa chegada.

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