Obrigado também






















Eu peguei umas comprinhas típicas da região e fui até o caixa. Era a cidade de Castro, no Paraná. Tudo muito lindo, diferente, as pessoas, as flores, as paisagens. Eu estava no mercado de uma cooperativa de leite famosa da região em um local rodeado por grandes moinhos. Pensa?! Tudo um charme.

Ao pagar pelos quitutes, olhei para a mulher do caixa, toda linda naquela vibe europeia que é a cara da região, e disse "Obrigado". Imediatamente, ela sorriu e se manteve me olhando, quando me devolveu um "Obrigado também".

Com as sacolas até o carro e depois até o hotel onde fiquei para conhecer Curitiba - moraria lá, mas fica para outro texto - e depois até abrir as malas de volta a Ribeirão Preto, me peguei pensando encantado por aquele "Obrigado também". 

Nunca tinha ouvido. É tão comum ouvirmos "Por nada", "De nada", "Imagina", "Disponha" quando agradecemos que aquilo me marcou. Parênteses: se fosse o "Gratidão" da modinha atual não daria para inovar nem na contra-resposta porque isso aí mata qualquer devolução ou tesão. Parei.

Isso foi há mais ou menos quatro anos e de lá para cá, trouxe o "Obrigado também" comigo para São Paulo. 

Importei? Copiei? Não sei. Acontece que achei simples e brilhante, tipo, eu agradeço e você agradece também, e vice-e-versa. É lindo. 

Mas o ponto aqui é que eu aprendi algo novo e o jeito que isso aconteceu. Uma coisa que me marcou e, mais que isso, me acrescentou.

Eu tinha dezesseis anos quando estava sentado a uma cadeira frente à mesa da gerente de RH onde eu estagiava. Ao meu lado, a jornalista responsável pela área de Comunicação daquela associação. Enquanto eu dava as minhas ideias para conteúdos que eram avaliados pela gerente a quem eu admirava tanto, a jornalista me interrompeu com um belo: "Matheus, deixa eu te falar, 'mim' não conjuga verbo. Quem fala 'mim' desse jeito é índio".

Eu parei. Pensei. Entendi. Agradeci e dali para frente não conversei mais na linha do "Para mim fazer ou para mim pensar melhor antes de mim falar". Aprendi o eu, eu e eu para conjugar verbos.

Minhas escolas públicas de formação desde o primário foram terríveis. Além disso, aquilo meu era cultural, como a minha família falava, era a minha referência até então. E vai por mim, escola pública ou não, nada melhor que o dia a dia e as experiências para te ensinar de verdade. Mas, claro, tudo depende daquilo que você faz com essas vivências.

Foi aí que, em vez de fazer cara de bosta para a colega de trabalho por ter me "chamado a atenção" em frente à gerente de RH, eu agradeço todos os dias pela Larissa Mango ter me mostrado isso.

Tempos depois, eu quem assumi a área de comunicação da organização. Trabalhava internamente enquanto lidava com uma assessoria de imprensa externa. Escrevia os textos que iriam para a revista feita para os associados enquanto uma outra jornalista - quem atendia a associação pela agência - editava meus materiais antes de serem publicados.

O e-mail com o conteúdo revisado chegava e, quando eu abria o arquivo de texto anexo, lá estavam as linhas e linhas em vermelho. Eram cortes, pedidos de retirada de informação e questionamentos sobre aquilo que propus que mal sobrava o meu textinho escrito em preto. Além das correções cores de sangue, havia parte e outra em azul. A segunda cor queria dizer que palavras e trechos foram substituídos por uma escrita melhor que a minha.

Eu olhava cada detalhe. A escolha de cada termo sinalizado por aquela jornalista. Via e revia para entender o motivo, perguntava, descobria o contexto, a amarração e aprendia. 

Sem ranço. Pelo o contrário. Hoje sou eu quem edito materiais e uso a técnica do vermelho e azul - e ainda um amarelão marca-texto para mostrar as palavras repetidas, essa terceira abordagem, eu mesmo criei (risos). Com isso, todos os dias agradeço à Andressa Sirino pelos cortes e ajustes que me ensinaram tanto. Com ela, aprendi inclusive a cordialidade de finalizar e-mails com um elegante "Fique à vontade" seguido por algo como "para qualquer comentário, correção ou sugestão". Ela nem sabe disso. Não aprendi essa por correção, mas por admiração, um excelente exemplo da abertura para as trocas que devemos ter.

Fico impressionado em como tem gente imbecil, míope, arrogante e infantil a ponto de não entender uma sugestão ou ponto de vista diferente e o quanto isso nos acrescenta. Ou, mesmo que não lhe sirva para nada, observe. Abra os ouvidos. Entenda aquilo que chega para você.

Comumente, quando alguém começa a corrigir algo, a tendência de defesa é imensa. E burra. Muito burra.

Eu tive uma gerente muito engraçada que repetia sempre que podia "Mat-mat, nada se cria, tudo se copia". Dou risada só de escrever sobre ela. Não concordo com o plágio descarado, mas incentivo a criação de um banco de referências para então o usarmos de novas formas.

Muito do que aprendi é porque me apeguei ao melhor do que essas pessoas me apresentaram. Trouxe exemplos de um passado de início de carreira, mas a contemplação é constante, no trabalho e fora dele. Afinal, se eu aprendo, quem está em volta pode aprender também, se eles melhoram, eu melhoro também, e se você tem algo para me agradecer, quero deixar bem claro aqui: obrigado também.


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