Família: a parte

 

É engraçado pensar em família e tentar não ligar diretamente essa entidade aos nossos pais, né? No pacote ainda podem vir avós, tios, primos e demais agregados. Mas não é tão engraçado quando pensamos que um dia, teoricamente, nossos pais vão embora antes que a gente, não estarão com no nosso futuro. E aí, como fica a família? Quem passa a ser sua?

Casamento, filhos... Sãos as respostas mais óbvias – e um tanto buscadas como metas mesmo que você não entenda seu objetivo. Seus pais deixam de ser, em parte, sua família, quando você começar a “construir” – meio cafona esse verbo aqui, porém, o mais usado – sua própria família.

O lance é que, construindo uma nova família ou não, seus pais e, quando houver, irmãos, são sua família, mas não são a sua vida.

Família é parte da vida, mas à parte de você. Entende o uso dessa crase, né?

Um dia ouvi que a gente começa a deixar de ser criança conforme, aos poucos, vamos nos tornando sexuais. Afinal, criança não trepa - ou não seria o mais saudável pra rolar, certo? Teoricamente, seria a partir disso que a gente deixaria a nossa criança para trás em nossas vidas, lugar que, de certa forma, deveríamos colocar também nossas famílias quando nos tornamos adultos e responsáveis por nós mesmos.

Como adultos, se olharmos em uma linha reta ao nosso lado e o lugar que algumas pessoas ocupariam em nossas vidas, a família - no sentido de nossos pais - estaria ao nosso lado ou para trás de nós, como quem os orientou até ali, nunca no futuro.

Porque quando colocamos a família que tivemos em criação à frente de nossas vidas nessa linha de tempo imaginária, o tombo pode ser bem grande quando eles morrerem ou, pior, por qualquer motivo, seguirem rumos diferentes dos nossos – o que naturalmente deveria acontecer. Daí nossa vida seria só expectativa e frustração. Afinal, o papel de nossos pais está fundamentalmente na nossa infância, depois disso, somos adultos, iguais, a partes das vidas uns dos outros.

Eu sou bem próximo da minha família. Nos falamos por mensagem todos os dias, ligações vez e outra ao longo da semana – digo com meus pais e minha irmã – e qualquer (falta de) motivo é razão de nos encontrarmos para comer, beber, rir e falar mal do meu pai – na presença dele, claro, que é a graça da coisa.

Mas um dia Eláiaz (como chamo meu namorado Elias para os de fora – eu tom um tom meio português de Portugal, tenta você também e chame assim os Elias que conhece!) me perguntou – meio que afirmando – “você não sairia para morar em outro país, com sua família aqui né?!”. Claro que sim! Surpresa pra ele. Não surpresa pra mim – por conta da relação risada-sem-noção-e-comilança que já falei.

Pra mim é assim: minha família é parte da minha vida. Minha família não é a minha vida. Minha vida não é minha família. Minha vida são meus passos, sem meus pais. Minha família hoje é com Eláiaz e, quando solteiro, minha família era acima de tudo a minha felicidade e com quem e o que eu escolher viver, não necessariamente meus pais. Entendeu meu conto? Então, aumento um ponto.

Tem gente que sofre porque o pai isso, a mãe aquilo, os irmãos aquilo outro – e há quem coloque até sogro e sogra no bolo de parte de suas vidas, enquanto essas pessoas possuem suas próprias – talvez até famílias – e você tem a sua independentemente deles.

Mas se essa linha do tempo imaginária que joguei aqui não colocar essa turma no espaço para trás de você, que te formou mas que não decide mais por você, há quem passe um bom tempo se lamentando ou terceirizando a responsabilidade de suas vidas quando adultos.

Eu tive a sorte de ser criado por pais que me ensinaram a independência e sempre mostraram até onde eles iriam. O convívio hoje, como adultos, é uma delícia, uma parte, minha vida é à parte. Minhas famílias, cada uma tem o seu lugar, sua prioridade e meu amor.

 

Comentários

Amanda Goulart disse…
Perfeito como todos os seus outros textos! Estou tentando exercitar essa ideia como nunca. Bjs
Obrigado, Vida! Que delícia ter um comentário seu aqui hahaha. Saber que você LEU! Hahaha E a gente vai aprendendo juntAZ.
Raphaela Farizatto disse…
O que eu costumo dizer é..
Nós (filhos) fazemos parte da família de alguém (nossos pais), mas ali não é a NOSSA FAMÍLIA, a nossa família começa a existir com o tempo, mas nós sabemos que fazemos parte de uma também. Por exemplo: eu faço parte da família que os meus pais "construiram" e hoje eu tenho a MINHA família (eu, Olívia e Álvaro), um dia a Olívia terá a dela, mesmo que seja ela é um cachorro 🤣 🤣. Nós somos parte de algo e com o tempo construímos algo, o gostoso é que a família que nós trouxe ao mundo é nós criou, sempre nos ensinou isso. A mãe já dizia: vcs precisam ter a casa de vcs, o canto de vcs, a vida de vcs!.. É o mesmo que dizer: tenham sua própria família.
Raphaela Farizatto disse…
Só não podemos esquecer que somos família de alguém!
Melhor filosofada, Rapha! HAHAHA luvU