Nem me Covid



Primeiro: esse com certeza é o pior título que eu já pensei - e publiquei. Segundo: eu não tive Covid-19, bom, pelo menos não tive sintomas. Se para descobrir se já peguei o vírus eu tiver que pagar mais de duzentos pau por um exame como fez uma amiga só para desencargo da consciência dela e do namorado, eu prefiro não saber ou perguntaria para uma cartomante em uma jogada bem rampeira de tarot que me custasse vinte reais. O que ela disser, eu acredito e ainda usaria de atestado na firma.

Mas fiquei pensando se eu tivesse o tal Covid. Com sintomas e (quase) tudo - porque eu não quero escrever sobre eu morrer, mas sobre eu me ver sendo levado ao ápice do desespero que eu chegaria numa dessas. Uma dor diferente de cabeça e eu já acho que é tumor, então...

A primeira coisa que penso é que graças a Deus estou num relacionamento. E mais! Morando junto. Casado. Tem que ficar na saúde e na doença! – sei que é cafona e falta de autoestima, mas só quem já morou sozinho e faz de tudo para não recorrer aos pais sabe como é puxado ficar de cama sem força para ir ao banheiro pegar mais papel para assoar o nariz.

Ano passado peguei uma gripe tão fodida que enquanto a minha cara quase caía de secreção no travesseiro e nada me fazia melhorar, eu cheguei a colocar uma playlist de três horas de mantra chamada Healing - “cura”, segundo meu curso no Fisk – tamanho o meu desespero – e hoje isso ainda aparece no meu histórico do Spotify para me humilhar e lembrar quem eu sou quando desesperado.

IMAGINA se eu começo com tosse, febre e falta de ar... Nessa hora sou devoto de todo santo, acendo vela até para o meu boneco do Olaf que veio no meu combo-orca de pipoca com doces na estreia de Frozen 2. Ficar doente e sozinho é um koo, sim!

Outro fato: começaria na vibe de perdoar todo mundo, aceitar que não valho nem o sorriso que eu acho que o cachorro do vizinho me deu um dia, que comprei muita coisa desnecessária na minha vida, que eu deveria ter mais plantas em casa, que se eu melhorar eu sei no meu coração que eu vou começar a doar sangue todo dia – mesmo eu não tendo, afinal essa é a graça da caridade: doar o que não podemos vale mais, aprendi com o Edir Macedo – e eu ainda iria rejeitar o pãozinho com presunto que entregam no hemocentro para a gente fazer o desjejum. Doaria para que alguém que precise mais que eu pudesse cear – quando doente meu vocabulário também fica mais rebuscado, como se eu falasse em bíblico por necessidade.

Chego ao ponto em que eu pensaria em começar a trabalhar de bicicleta. Ou não trabalhar mais, viver só de meditar e orientar quem ouvir o meu chamado. Banho? Só gelado, para ajudar o planeta.

Dependendo o nível de moribundice que um Covid-19 me colocasse... Ainda mais se eu tivesse mais de 60 anos... Receio dizer... Eu não consigo escrever... Ai, gente... Talvez até teria me arrependido por não ter tido filhos. NOSSA! Passou. Para. Credo.

Agora só falta eu reconhecer que se eu não tivesse o Elias, teria aceitado até casar com mulher só para não ficar sozinho, como se tivesse gay que fizesse isso... Já pensou? Que horror! Esse vírus é realmente mais perigoso do que parece.

 


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