Facilitar ou melhorar?


Cada copo, cada prato, tinha um pouco de água com detergente dentro. Todos colocados na lateral da pia, preparados para serem bem lavados a com facilidade dessa minha preparação da louça.

Enquanto eu lavava um a um, eu pensava, “Deus, como a minha vida é perfeita”. Isso até me fez lembrar da mãe de uma amiga que, quando visitou meu apartamento, disse que a pia era pequena e toda arrumadinha, que parecia de boneca. Recebi como um grande elogio, claro, como o capricorniano com ascendente em capricórnio que sou.

Era domingo. Nessa mesma noite, depois de lavar a louça, lembro que deitei no sofá e coloquei uma série para ver na tv. Pensei, “Gente, como seria bom ter alguém aqui ao lado agora, para ficar abraçado, tirar essa bad do domingo à noite”. Ao mesmo tempo que me imaginava compartilhando esse momento, eu dava graças a Deus pelo meu sossego, por não ter o trabalho que dá dividir a vida com alguém.

Vida fácil. Controle total sobre tudo. Vai mexer para quê?

O lance é que com o tempo percebi que eu havia estagnado. Não saía do lugar no sentido de aprender e evoluir com tudo que um relacionamento pode – eu disse, po-de, não que necessariamente vá – oferecer de bacana para a gente.

Ser solteiro aos trinta e poucos, com sexo quando quiser, com sua própria casa e conforto financeiro... É um perigo!

É tentador levar todo dia exatamente do jeito que você quer. Comer o que quiser, se cuidar quando quiser, peidar quando – e no ritmo que - quiser sem ter que dar aquela olhada ao redor.

É perigoso de bom. É perigoso que só, porque viver só é bastante perigoso. Não falo só da companhia de um relacionamento amoroso, mas – colocando por mim – quanto mais ficamos sozinhos, mas gostamos de estar. Tudo a gente se acostuma.

Do ponto de não ter um namoro, com o tempo, corremos o risco de não se importar mais com amizades com as quais discordamos (pra quê?) ou não temos paciência e até mesmo com os familiares (pra quê?) – inclusive se uma vida sexualmente ativa passar a dar muito trabalho para existir... Pra quê? Me deixa quietinho no meu cantinho, mundinho, quentinho.

Foi por esse caminho – tentador – de virar uma ilha que virei a chavinha na minha cabeça sobre, sim, viver um novo relacionamento.

Nada pra ontem nem pra data alguma. Depois de dois longos namoros bem diferentes um do outro, namorei dois anos comigo. Me conheci e me acompanhei em minhas mudanças, sem jamais abonar. Não é assim que um relacionamento saudável deve ser?

Eu sabia que eu era uma pessoa foda, que era fácil e gostoso viver assim, mas que eu poderia melhorar ainda mais como ser humano se eu tivesse a oportunidade de amar, de compartilhar, de me colocar e receber a vida de alguém.

Com o tempo veio, faz um ano e meio.

Enquanto alguns se separaram na pandemia, a gente intensificou a monogamia: morando junto, dividindo o dia a dia.

A louça suja agora não é mais separadinha na lateral da pia. Fica jogada toda junta embaixo da torneira, engordurada que só, até ser lavada por mim ou por ele.

Agora eu entendo que o fácil definitivamente não é o melhor e que cada caminho tem o seu gostinho, vai de você saber para qual paladar você está.

Comentários