Os sem-setas


 

Se muita gente mudou as expectativas que tinham sobre si mesmos com as experiências impostas pelos últimos meses, a minha maior virada nesse assunto foi entender a expectativa que eu criava sobre as outras pessoas e o mal que isso me fazia. Bobagem a minha.

É louco pensar que precisei de mais de trinta anos para entender que, não, as pessoas não conseguem ser o que eu acredito que elas poderiam – ou deveriam – ser, não importa o nível de conhecimento que possa receber e até mesmo tempo que isso poderia levar. Não vai acontecer.

Na minha cabeça, se morre alguém que uma pessoa ama, isso a tornaria naturalmente alguém mais humilde, amável e que passasse a valorizar a vida justamente por entender essa fragilidade. Muita gente não entende. Passa a fazer o oposto, se torna raivosa, mesquinha, prepotentes. Nada ensina.

Nessa mesma cabeça sobre o meu pescoço, eu pensava que se uma pessoa chega a um cargo executivo em uma empresa é porque ela já passou pelos cargos mais operacionais e, graças a isso, entende as dificuldades, a necessidade de uma boa orientação e, talvez, como diretor, fosse capaz de dirigir e ser um facilitador na abertura do caminho que uma equipe precisa percorrer. Coitado de mim... Tem gente que começou como estagiário, cresceu na carreira e hoje desorienta mais do que dá diretriz.

Preciso falar do que eu espero de um presidente? De um líder que chega ao cargo que representa toda a nação? Deixa quieto.

O ponto é que gente ignorante – no sentido de não ter o entendimento, a empatia ou a abertura necessária para isso – também chega a situações e postos de grande poder de influência sobre as pessoas.

Essas pessoas, por suas vezes, não conseguem discernir essa diferença entre o fato de esses seres terem o holofote sobre si ao mesmo tempo que não sabem nem onde fica a tomada para mantê-lo aceso – e não se importam em aprender.

Para mim – até então – era tipo o seguinte: se todo mundo que tira habilitação para dirigir passa por um curso e uma avaliação que ensinam e aprovam, por exemplo, sobre a necessidade de as pessoas darem seta, por que elas não dão seta enquanto dirigem?

Olha só. A referência foi a mesma para todos. A autoescola entregou o mesmo aprendizado para ca-da-a-lu-no que foi aprovado para dirigir. Mas uns usam a seta em rotatórias, estacionamentos de shopping e, claro, curvas, e outros não.

O exemplo é bobo mas ilustra super bem a questão sobre o que é dado e o que é esperado.

Nesse tempo eu também entendi de onde vem essa minha expectativa sobre os outros: da infância, claro – como qualquer terapeuta por R$ 200 a hora também teria me dito.

Minha criação foi com o meu pai falando na minha cabeça que tirar nota A não era mais que a minha obrigação, afinal, eu só estudava – expectativa dele sobre mim.

Assim seguiu da A no ensino fundamental para a nota 10 no colegial e depois a responsabilidade sobre a minha rotina, e a chegada da idade para trabalhar, minhas finanças, estudos, e então a maior idade e, finalmente, o ponto de “Olha, Matheus, você quem sabe. Você tem que saber o que é melhor para você”, me colocando à frente dos meus passos depois da educação que me deu.

Eu simplesmente trouxe a visão sobre expectativas básicas para tudo ao meu redor. “Se ela sabe que isso é um problema e sabe como resolvê-lo, por que não resolve?”. “Ele está sem dinheiro e continua gastando, por que não economiza?”. “Ele é o líder da equipe, por que não decide qual caminho tomar?”. Enfim... Exemplos never ends.

Hoje entendo claramente que por mais que todos aprendam sobre a sinalização de trânsito, sempre haverá quem não entenda o significado da placa que ilustra o “Dê a preferência”. Mesmo que algumas pessoas decorem as respostas para a prova técnica na autoescola, também vão ter sempre aqueles que enganam muito bem a ponto de não serem reprovados no psicotécnico.

 

  

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