Precisa-se de Problema

 

 

 
Entre os maiores mistérios da vida, pra mim, está quem tem mais de um celular. Juro que não entendo. “Ah, mas um é do trabalho e o outro de uso pessoal”. Quem tem, jura que essas coisas ainda se separam neste aspecto e que precisa disso para conseguir lidar.
 
O povo tem mania de criar problema.
 
Uma amiga comprou o segundo aparelho para não responder os clientes fora do horário de atendimento e veio me contar. “Já pensou em simplesmente não responder, depois de ter avisado seu horário de atendimento?”, respondi. “O povo não entende, Ma”. E eu muito menos.
 
Uma outra colocou um texto na sua descrição do WhatsApp dizendo que se for urgente era para ligar porque as pessoas pensam (segundo ela e eu até concordo) que ela precisa responder as mensagens imediatamente.
 
Pensam? Precisa? Quem? São problemas que não existem e que algumas pessoas insistem.
 
Dia desses cheguei com marmitas na casa dos meus pais, para almoçarmos juntos, e meu pai soltou um “Nossa, Matheus, tá cheio de comida aí”, em um tom desanimado da vida/fim do mundo/chegou o apocalipse e não podemos fazer mais nada.
 
Respondi: “Tudo bem, eu levo embora o que sobrar”.
 
Qual o problema?
 
Sério. Me fala. O que é realmente um problema? Se nem ouvir problema o dia inteiro precisa ser um problema – beijo para as e os terapeutas -, então o que seria?
 
Uma doença difícil ou sem cura? Entendo totalmente. A queda de energia em casa que talvez até te faça perder uma reunião que você acha importante? Não acho. Durante o último ano de faculdade um amigo recebeu um oficial de justiça à porta de sua casa por motivo de falta de pagamento do curso de Jornalismo. Atualmente ele tem um cargo extremamente relevante na maior empresa de varejo do Brasil. As dívidas foram pagas. Tudo passa, lembra? Uma das nossas únicas certezas nessa vida, a impermanência de tudo.
 
Então, se na Matemática chamam de problema aquela equação que sempre tem uma solução, na vida, talvez o verdadeiro problema seja aquele que nos deixa realmente sem opção.
 
Penso que as pessoas criam alguns problemas pela importância tosca que se dão ou pela importância (mais tosca) que dão para coisas sem importância ou, pior, pela importância que dão para a importância que outras pessoas colocam sobre a gente como se isso fosse importante. Viu? O grau de tosquice só aumenta, se você deixar.
 
Se algo realmente te paralisa de forma que você não consegue reagir, permita-se parar e entender isso. Talvez nem seja um problema, mas apenas uma pausa que vai te fazer bem se você conseguir se aquietar e deixar rolar sem querer resolver ou controlar.
 
Leve o seu tempo, mas, em vez de problematizar, tente aliviar. Caiu, levanta. Interditou, desvia. Fechou, espera abrir. Mudou, se adapta. Perdeu, desapega. Precisou? Pergunte-se se precisa mesmo ou se você simplesmente não quer que algo seja de um jeito que é apenas o seu jeito de querer as coisas – ou que você foi ensinado sobre como deveria ser. Mudando isso, os outros que mudem também. Porque de “problemas” já bastam os nossos rsrsrs.
 

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