Eu tão gay

 




“Tsunami de viado” foi a expressão usada por uma moradora do Rio de Janeiro, enquanto explicava como estava o local onde rolou o show da Lady Gaga na noite de ontem.

O áudio em tom de humor viralizou no mesmo dia em que o Cristo quase caiu de lá de cima por conta do vento que vinha dos leques batidos no ar na praia de Copacabana.

Pensei muito antes de escrever e publicar este texto - há anos ele me vem à mente - por preocupação de gerar ainda mais preconceito. Porém, meu objetivo aqui é falar sobre autenticidade - e isso é sempre importante promover.

Oi, eu sou o Matheus. Sou gay e não me identifico com a maioria dos gays.

Não fui ao show da Gaga nem da Anitta. No caso da brasileira, a apresentação rolou na cidade onde moro e, na conversa com uma amiga que me convencia a comprar o ingresso, respondi: “Ai, vai ser no domingo e chegando lá é aquele monte de viado… Me dá uma preguiça” (risos).

Essa minha preguiça vem da minha falta de identificação que vem, principalmente, dos valores da maior parte dos gays que conheci até hoje.

Falo de coisas como aquela neurose de academia em excesso para ter um corpo sarado na tentativa de suprir algo por meio de uma prática que nunca vai curar a deficiência emocional que essas pessoas têm.

Do início de conversa em que me perguntam, “Que perfume é esse?” - respondo e ouço de volta “Nossa, bicha rica…” (risos). O mesmo serve para quando notam o celular que você tem, a roupa que usa, a viagem que fez e coisas do tipo.

Certa vez conheci um menino, nos tornamos colegas e, a cada churrasco na casa dele, só tinha gay. A pessoa não tinha sequer uma pessoa fora da comunidade em seu convívio. Eu achava tão triste. Tão limitante em termos de referências de vida. Extra: desses seis amigos que formavam todos os eventos, todos eles já haviam tr4nsado entre si - outra coisa que me entristecia muito ao ouvir as histórias (risos).

Já ouvi que não sou gay, sou homoss3xual (hahahaha). Um absurdo, mas entendi o raciocínio do irmão de uma amiga quando quis dizer que sou um pouco mais discreto que muitos.


Mas, sou gay, sim. Sou viado, sou bicha, da mesma forma que, sou eu - não sou o que a tendência dita, em todos os sentidos.

Nunca fui em “Carna Gay” - aliás, quase nunca fui em Carnaval algum (risos). Mas o evento é sempre de parar os gays da cidade. Fui uma vez ao Henrietta - bar gay famoso daqui - com um colega e nunca mais voltei; enquanto que praticamente todo cara com quem comecei a conversar me falou que estava, em pelo menos um dia do fim de semana, sentado bebendo por lá.

Uma colega lésbica certa vez me falou: “Nossa nada a ver você naquele bar” - falando de um story que ela viu em que eu estava no Bar do Zeca (lugar de samba e pagode).

“Por que?” - eu quis saber; ela: “Porque lá é lugar de hétero top”.

Eu juro que não entendo esses padrões que as pessoas se impõem. É surreal o quanto isso é limitante e, pior, o quanto engessa em algo que, muitas vezes, essas pessoas sequer sabem se realmente se identificam ou se vão no embalo do que a outra ao lado se coloca como preferência.

No meu eu tão gay musical, curto a Gaga, mas amo mesmo é a Madonna. Adoro algumas músicas da Anitta, mas não sou fã da Pablo - ainda mais gritando “iuquêeeeee?” (risos). Sou fã de Sandy e Junior. Já fui muito fã de Britney Spears.

Vez ou outra, curto balada para beber e dançar. Sendo ela gay ou não.

Em gostos gerais, curto a arte Drag mas não conheço os nomes delas. Por vezes me visto mais como uma lésbica do que um gay.

Essa minha falta de identificação me limita um pouco em termos de convívio e até relacionamentos românticos. Mas me expande em muitos outros aspectos por eu seguir aquilo tudo que eu sou, paralelo a qualquer rótulo ou grupo.

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