A bordo de si



Quanto mais você fala, menos se conhece. Quanto mais os outros falam, mais você se perde. Eu não sei o que encostou aqui em mim, se é Osho, o Baba, Cortella, o Kardec ou algum outro dos nossos amigos que não precisam estar fisicamente presente, mas o silêncio nunca me disse tanto como agora.

Deve ser a quietude do meu lar. O que eu chamei de meu apê, hoje olho para as paredes e só vejo meu eu, meu cantinho, meu bem, meu ponto de encontro diário comigo.

É melhor que terapia. Me faz mais bem que cinema, que eu amo e sempre vou sozinho. Ah... Não deveria escrever "sozinho". Porque a pena de alguns vai fazer barulho diretamente para o meu rumo. Gosto de estar "comigo". Melhorou?

Enquanto você lê este texto, estou em um outro lugar, um que nunca estive antes. Comigo. São quase dez horas de voo direto para ir e outra quase dezena para voltar. Primeira vez por lá. Primeira vez fora do Brasil. Sete dias. Eu comigo, minha vontade e meu inglês. 

"Férias? Que legal! Vai para onde? Jura? Com quem? Vixi... Eu não viajo sozinho".

Que pena. Isso sim é para se ter pena. Deixar de fazer um gosto por não ter companhia. Ou pior: simplesmente não ter um desejo próprio que te mova independente de outras pessoas.

Viajar com amigos é sensacional. Com a família, um presente. Com um companheiro, um frescor delicioso para a relação. E viajar sozinho é fazer uma especialização em você para curtir ainda mais quando estiver ao lado de alguém.

Quem não consegue silenciar, não se encontra. Quem tudo comenta, nada sabe. Para quem tudo serve, nada cai tão bem.

"O senhor poderia me dizer, por favor, qual o caminho que devo tomar para sair daqui?", perguntou Alice. "Isso depende muito de para onde você quer ir", respondeu o Gato. "Não me importo muito para onde", retrucou Alice. "Então não importa o caminho que você escolha”, disse o Gato.

"Se você não sabe onde quer ir, qualquer caminho serve", Lewis Carroll, autor de Alice no País das Maravilhas. E eu definitivamente amo esse pensamento. Serve para tudo.

É impossível entender qual é o seu caminho enquanto você ler e ouvir a tudo e a todos que dizem saber o que te serve. Os sinais nos orientam, mas a decisão é sempre e somente nossa. Portanto nada mais sensato que parar e ouvir a si mesmo.

Geralmente as repostas estão ali. Todos sabem o que as coisas te causam. O complicado é saber olhar para si e entender. Pois os rituais do grupo, das curtidas, dos comentários e do falso interesse das pessoas sobre a gente nos faz buscar o que precisamos no jeito de olhar e ensinar do outro.

Quem não silencia, ouve de tudo. Quem não escolhe onde estar, presencia o que não é para ser seu. Quem não se apega a si mesmo, naturalmente, instintivamente, vai se apegar ao outro. Quem não tem, pede emprestado. Quem não cria, copia.

Toda vez que vai pelos outros, você vira as costas para não se ver. Se você não souber se ouvir, não escreverá uma palavra sequer.

Coragem não é fazer uma viagem sozinho, é estar disposto a se encarar. Enquanto caminho comigo em silêncio comigo aqui, espero que você considere olhar para a sua bagagem aí.



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