Quem quer dizer Não?




Passei quase vinte e cinco horas olhando para nada e assim me restando exclusivamente os meus pensamentos, minhas lembranças e sentimentos como distração. Uma atividade deliciosa para se fazer estritamente a um.

O exercício veio durante uma viagem. Depois de ver muita coisa nova e empolgante com as quais tanto sonhei, a sensação de viver essa conquista veio acompanhada da reflexão sobre tudo o que me levou até lá, o que eu fiz e que me trouxe até aqui neste Matheus que sou enquanto escrevo este texto, fazendo mais uma coisa que me faz bem demais.

Mais que pensar em tudo que escolhi ao dizer Sim, revivi muitos dos caminhos que segui por dolorosamente dizer Não.

Dá no mesmo? Nem tanto.

É fácil escolher entre atravessar uma trilha ensolarada e outra congelante. Dizer Não para o copo de veneno para então recebermos o suco feito na hora. Mas falar Não para um soco do lado esquerdo do rosto e saber que ao negar isso a outra opção é o mesmo murro violento, porém, na face direita, é um pouco mais difícil e tão dolorido quanto em um primeiro momento.

Para mim, mais fácil que dizer Sim para o que queremos é colocar o Não para aquilo que faz mal ou que simplesmente não é para a gente.

Ao mesmo tempo em que o Não pode ser mais fácil de se alcançar por geralmente ser resposta para algo que já nos causa sofrimento ou que pode chegar a isso, ele é resultado de emoções que não são as mais encorajadoras, como o medo, a angustia, a preguiça ou a dúvida.

O Sim também pode vir com algo incerto, porém, costuma surgir de sentimentos como o otimismo, a esperança, o entusiasmo e, muitas vezes, a certeza de algo bom.

Se o Sim é dito para o bom e o Não para o ruim. O que seria o Não respondido para algo supostamente saudável? Porque o Sim para aquilo que é claramente prejudicial eu nem vou comentar.

Uma das experiências mais difíceis que vivi até aqui foi dizer Não para uma pessoa que eu amava. Terminar um relacionamento construído ao longo de anos, tranquilo, um amor que me acolhia e em que havia respeito e parceria mútua. Dizer Não para essa segurança. Negar o aparentemente bom. Aquele tipo de decisão que é triste não importa o motivo.

Trata-se do certo pelo duvidoso encarado quase que em modo suicida. Porque eu o amava verdadeiramente. Daí a ter essa conversa pessoalmente, não há álcool ou remédio que ajude a dar a coragem necessária. Pelo o contrário. É preciso um grau absurdo de consciência e entendimento de si mesmo para fazer uma escolha como essa. Saber que em alguns casos, a trilha congelante é a travessia necessária para se descobrir uma nova estrada em vez de continuar pelo caminho ensolarado.

Naquelas horas de ócio, foi em Nãos como esse que pensei e muito outros que banquei. Foi na dor da resposta de cada um deles que eu segui sem saber o que me custaria.

Com a distância sobre esses momentos passados, entendi como assumir esse tipo de Não, abrir mão de conveniências e estabilidades, transforma a gente.

De um jeito diferente do Sim, o Não é uma escolha que nos leva até um lugar muito mais difícil de prever e justamente por esse motivo, definitivamente mais surpreendente.



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