Macumba sincera




Uma amiga fez macumba. Alguns podem chamar de "trabalho". Eu acho que ela usou a expressão "oferenda" quando me contou sobre o feito.

Amigos há muitos anos, fazia tempos que eu não a via. Ela saiu do país. Casou. Veio visitar a família. Marcamos um chope.

Ela sempre linda. Sempre muito esperta. Despertava ranço nas meninas da sala. Sobre os caras, não aceitava qualquer coisa. Mirava alto. Simples de tudo. Pobre de tudo. Minha adoração desde sempre. Éramos dois fodidos cursando a escola pública que reunia gente mais fodida que a gente. Uma tragédia. E cá estamos. Eu e ela. Ninguém roubou, matou ou se acabou. Mas ela me superou.

Em meio aos goles depois de anos sem nos vermos, elogiei o maridão bonitão e disse que ela estava ótima. Ela só reafirmou minhas impressões com o sorrisão lindo e sincero que são dela e me convidou: "Má, vou ficar aqui até semana que vem e eu queria que você conhecesse o centro de umbanda comigo. É super de boa, Má! Pessoal do bem e... Deixa eu te contar...".

Foi lá que ela chegou. Pediu. Pagou. Ofertou. Viajou. Foi assim que ela buscou o maridão maravilhoso e bem sucedido. Depois da tal oferenda, conheceu o lindaço ao chegar pelas terras gringas, começaram a namorar, o fofo se formou, batalhou, boa grana ganhou e ela tudo acompanhou.

"Não tem erro, Má... Foi tudo certinho. Do jeitinho que eu pedi". Os dois estão há anos juntos.

Guardei essa história por muito tempo, primeiro pela exposição da situação e segundo porque quem não a conhece, poderia julgá-la. Enquanto o que eu quero aqui é justamente ovacioná-la. 

Ela desde sempre soube o que queria, o que lhe servia ou não - já admiro. Independente da macumba - para mim há meios bem mais tenebrosos que esse para se conseguir alguém - ela assume o que fez, como fez e quem ela é. Eu já pago pau.

Primeiro, Lulu Santos. Arrumou um baby lindinho que o faça companhia e assumiu para o Brasil. Diz que inspirou seu álbum. Dizem que se amam. Eu sinceramente desconfio.

Queria ver ele artista, famosão, aos trinta anos, assumir o amor por um desconhecido e sem condições de mesma idade. Nunca aconteceu.

Ou o tal baby encontrar o amor da vida dele, sendo todo jovenzinho, e se entregando a um anônimo de 66 anos. Ah, sim. Ah, tá.

A decepção que me empurrou para este texto veio com a atriz, jornalista e apresentadora, linda, inteligente e bem sucedida, Mônica Martelli. Enquanto os homens são de Marte, ela é bem terrestre. E deixou bem claro que não é para lá que ela vai porque é aqui que tem coroa cheio da grana.

Esta semana a lindona diz ter encontrado o amor da vida dela, aos cinquenta, ao lado de um sessentão que é dono de uma grande empresa de entretenimento, responsável por trazer atrações internacionais para o brasilzinho. Amor? Gamou? Muito bem.

Enquanto prega em seus filmes, série e peças a busca pelo amor ou a liberdade em nome de não ser infeliz em uma relação sem tesão, a comprida rasga seus roteiros com a língua ao posar de romântica ao lado do velhão que literalmente parece ter vindo de Marte - no mal sentido.  

O aparentemente recalcado autor deste texto aqui nada tem contra casais desses tipos. O meu ponto é: joga a real, gente.

Eu quero ver a Mônica Martelli chamar de amor da sua vida o mesmo homem, porém, em vez de grande empresário, cinegrafista do programa que ela apresenta na GNT. Ou se o Lulu Santos vendesse pastel aos domingos na feira em que o tal menino-marido iria curar a ressaca depois da balada gay... Teria que ter amor demais pelo carne e queijo dele para então chegar ao bem-casado.

Que mal tem em dizer que "Ele é boa pessoa e me faz bem, é companheiro e gosto de tê-lo ao meu lado". Ponto. Sem "amor à primeira vista", "me apaixonei e não viveria sem" e coisas do tipo. Não há quem precise convencer nem se enganar.

A carência existe, uma companhia pode cair bem. Pode ser bacana ter o apoio de alguém ao seu lado e necessariamente não precisa ser paixão, amor ou magia. É justamente o contrário.

O amor verdadeiro só surge do excesso da realidade vivida junto. Do contrário, eu prefiro a sinceridade da minha amiga macumbeira.


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