Só um minutinho


O ônibus ia sair às cinco da manhã do outro dia. Acordei às três, morrendo de dor de barriga. No trono, eu fiquei até quase a hora da saída do ônibus que ainda tinha a saída do carro do meu pai para me levar até o local combinado. A situação? Diarreia. O motivo? Minha primeira ida ao extinto Playcenter. Uma viagenzinha em excursão de algumas horas do interior para a capital para passar o dia no parque com a galera do curso de inglês.

Ansiedade. Daquelas de gente louca. Isso foi quando eu tinha 12 anos.

Aos 17, eu já era estagiário na área de comunicação de uma associação. Como benefício, toda a equipe da instituição tinha direito à terapia. Era uma delícia. Um horinha por semana. Foi quando a terapeuta me receitou valeriana. Nunca tinha ouvido falar. Mandei fazer na farmácia de manipulação. Tomava uma ao dia para a minha ansiedade. Eu já não tinha desarranjos, mas me dava palpitação ter que lidar com gente que não acompanhava meu ritmo.

Foram muitos casos. Lá se foram 15 anos. Nos últimos tempos, experimentei Pasalix. Foi há dois anos, quando estava com certa dificuldade para respirar. Meio ofegante, fui até um médico que me perguntou "O que está pegando aí dentro, cara?". Eu disse, "nada". Ele muito sabido insistiu: "Tem, sim. Isso aí é ansiedade. Vou te passar um fitoterápico bom até. Pode tomar sem medo". Passou. E passou.

Sem nenhuma dessas ajudinhas, hoje percebo que quanto mais formas de nos acharem, mais redes sociais, mais séries e filmes e livros lançados ou mais trabalho e mais gente eu tenho que lidar, menos eu tenho que agir.

É sério. De um tempo para cá, aprendi a esperar e tenho visto como as coisas acontecem. Muitas se resolvem sozinhas ou vou se apagando a um ponto que depois de assistir a tudo, fica fácil resolver com um simples assopro, sem precisar de extintor.

Pensar e agir e resolver de forma rápida me trouxeram muitos presentes. Conquistei coisas e realizei sonhos mais rapidamente por saber o que eu queria e não sossegar enquanto eu não fizesse aquilo acontecer. Mas ao passar um pouquinho dos trinta e começar a ver o tanto de gente perdida ao redor e com opiniões sobre tudo e comportamentos sem o menor fundamento, descobri que é melhor esperar um minutinho.

Dar um passinho para trás. Olhar para os lados e não atravessar correndo nem porque todos estão atravessando. Só estando eu comigo em meio a tanto corre-corre, consigo perceber tudo o que rodeia cada idiotice que nos cobra pressa.

Não é para sermos um poste, pelo amor de Deus! Mas ser trator, cansa. E quanto mais você é e age, mas as pessoas esperam isso de você, mais estranham quando você muda um pouco. 

Ao virar uma ampulheta, não queira ser mais rápido que a areia. Tem sido melhor olhar para ela, entender o seu movimento, o seu tempo, suas cor e textura. Se você não acredita que esperar pode ser o melhor a ser feito, para mim é uma certeza pelo simples fato de que hoje ninguém quer esperar nada. E eu não acho legal sermos iguais aos outros.  


Comentários

Juliana Ruza disse…
Amei o texto, e me vi em muitas partes! Claro que não consigo ter essa atitude de olhar pras situações e ter clareza sempre, mas aprender a respirar e esperar só um minutinho, já me livrou de cada enrascada! Me identifico muito com os episódios que você citou... Já melhorei muito, mas preciso estar sempre atenta e em diálogo constante comigo mesma pra não me deixar cair na areia movediça que são esses episódios de ansiedade.
Que delícia receber o seu comentário, Ju. É um exercício mesmo e, por melhor que a gente fique nisso, vai surgir algo que nos tire do eixo. Mas o melhor desse tipo de surpresa é que ela nos ensina a não cair nela outra vez.