Levinho e redondinho



  
Dois mil e vinte ficou tão gostoso de digitar, não acha? Dois, zero, dois, zero. Um em cima, outro embaixo no teclado de números do meu desktop old school.

2020. Bem diferente do 2019 que começou com 20 e diminui para 19. Uma falta de coerência que tem tudo a ver com o ano que passou.

O meu período passado foi maravilhoso. A esquisitice numérica do ano veio em forma de surpresas estranhas de se imaginar, de tão boas!

Viajei a lugares que eu ainda não conhecia: Nova York e Bahia. Fui a dois shows que foram pura nostalgia. O terceiro foi sensacional, de choradeira e gritaria! No cinema, Marvel e Disney fizeram a minha alegria.

Minha irmã engravidou da minha sobrinha e afilhadinha. E minha resolução solteira me presentou com o amor de um namorado inacreditável.

Que ano! Me recuso a me igualar ao senso da modinha e dizer “gratidão” mas eu realmente agradeço com um Obrigado que vem da sinceridade do meu coração.

O vinte mais dezenove foi agitado e um tanto conturbado. No geral, ao meu redor vi muita gente sendo colocada à prova e se perdendo cada vez mais. Falando por falar, agindo sem saber, apontando sem se olhar. Isso também nos cansa, mesmo que indiretamente. Portanto, para o meu vinte mais vinte que chega todo redondinho e gostosinho, eu quero apreciar meus presentes do ano que passou e aquietar em mim, no meu travesseiro, no colo do meu companheiro.

Para isso, logo neste começo de ano, cancelei a minha pós-graduação à distância feita em vídeos e sons e botões e montes de arquivos digitais. Meu espanhol, volto a praticar porque também não dá para parar. Ler e ler. Escrever e compartilhar. Buscar aprender para transformar. Também preciso me exercitar.

Vou simplificar. Quero mais ouvir do que falar. Aliás, vai por mim: nenhum curso ensina mais que o exercício ouvir. Conseguir ouvir a nós mesmos é módulo avançado que anda junto à lição de casa de fazer o mesmo com quem está à nossa volta.

Li que a melhor ponte é aquela em que passam burros e cavalos. Não há melhor ou pior entre os dois. Cada um tem a sua habilidade para nos ensinar algo, seja burro ou cavalo. Abra a sua ponte, caminhe por ela em meio aos que vêm e aos que se vão.

Sigo pregando sem religião. Acredito em Deus, em energia, no mistério. Pode escolher o nome. Não recrimino desde que sua crença não faça mal de alguma forma ao outro.

Com a mesma certeza de que ouvir ensina, sempre acreditei que com muita ansiedade a gente desaprende. Falo da ansiedade que nos causa incerteza, aflição. Que nos faz correr sem sabermos o motivo, querer mexer em algo que não precisa ser mexido. Pois existe a ansiedade que nos motiva, nos deixa entusiasmados a realizar algo, a ver alguém. Se não, viveremos como postes.

Estar ansioso em aflição não nos deixa pensar direito, ver, entender, contemplar e o principal: confiar.

Em tudo o que vivi nestes 33 – sim, estou três mais três durante todo o vinte mais vinte, demais né? – cada experiência foi preparação para o próximo passo. Tenho esse entendimento muito claro comigo.

Situações, mesmo que desconfortáveis, surgem como um presente que, se estivermos abertos a entender aquilo que precisamos, definitivamente nos torna pessoas melhores. E essa é a ideia dessa vida, certo? Melhorarmos como pessoas.

Desejo que seu 20+20 dobre as oportunidades de você aprender com tudo a sua volta e multiplique por vinte a serenidade que se sente quando se conhece a si mesmo.


Comentários