Proezas em prosa



Comprei um vídeo-game. Assinei três serviços diferentes de streamings de séries e filmes. Além de entrar em um de música – que uso como membro da família de uma amiga que não se parece com os membros da sua família. 

Apaguei os aplicativos que vou chamar gentilmente de Apps de Encontros em vez de usar uma expressão que define o que eles realmente são. 

Minha família? Encontros uma vez na semana. Assim fiquei no esquema que chamei de Eu Comigo. O ano era 2019. Meses depois, a minha tendência até então fora de moda – ainda mais para um solteiro! – virou capa de revista, entrevista que dizia estar proibido qualquer tipo de visita. Foi o meu adiantamento do que agora chamam de isolamento.

Há três meses em quarentena, sinceramente? Não enjoei desse esquema. Do que mais sinto falta é o cinema.

Depois, vem a falta do bar. Saudade do boteco. Primeiro com o amoreco. Depois com amigos. Com alguns. Porque até isso veio de bom para mim: tenho muito mais tempo desse jeitinho, para ficar quietinho e sem ter que dar desculpa só para poder ficar no meu ninho. Vamos combinar que existem amizades para pernoitar e outras para tolerar. 

Tem amigo que tem que ser no homeopático, aquele para tomar de leve, passar no máximo duas horas em um bar. Sem bar, é barra. Em casa, só com tarja preta. É aquele que a gente mantém por carinho, por saber que ele vive sem ruminho, mas que nada dá jeitinho.

Em 2018, fervi. Em 2019, pedi. Em 2020, me recolhi. E não tem nada a ver com pandemia. Antes de Convid, encontrei alguém que soma e não divide.

É compartilhamento. E o melhor: sem sofrimento. Com pouco mais de mês de namoro, trocamos chaves de nossos apartamentos. A pandemia nos colocou em praticamente um casamento, morando juntos há três meses. Mas, em vez de olhar para confinamento, é uma delícia se descobrir em um relacionamento.

Jurei nunca mais morar junto! E aqui estamos nós. Já não julgo Gretchen ou Fabio Junior. É uma alegria que me tira da pandemia.

Ainda tem a minha sobrinha, que seria ofensa chamar de gracinha. A Olivia é linda. Amei antes de nascer, estranhei ao conhecer – porque, apesar de ela ser toda delicada e perfeitinha, bebês recém-nascidos continuam tendo cara de nadinha. Agora morro a cada fotinha porque todo novo dia ela cria mais bochechinha. Além disso, eu sou sua madrinha. Oops... Padrinho! Cof-cof...

Sem sofrer por esperar, é maravilhoso ter quem abraçar, compartilhar, deitar. Me resta escrever, ler, comer, beber, foder. 

Quem diria? Sorte a minha! Parecia que eu já sabia o que viria.


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