Peguei para estudar a criação de vídeos feitos por inteligência artificial em que são criadas pessoas em diferentes situações, falando textos escritos por nós para serem narrados pelo computador.
Dá trabalho.
O resultado que consegui vem da misturinha do uso entre o ChatGPT e o VEO3 — IA criada pelo Google para transformar nossos comandos de texto em vídeos com gente, cenários e vozes que não existem.
Quando o vídeo fica pronto, ainda vem cheio de errinhos. Para ajustar, você precisa reescrever o comando de criação e acender uma vela na esperança de que “a inteligência” não seja burra.
Apesar da automatização da tecnologia, é preciso paciência e tempo para construir este conteúdo.
Passadas horas de estudos e tentativas, fiquei pensando no quanto nos dedicamos à construção de algo hoje em dia.
Fiz 6 vídeos para 2 serem aproveitados como pequenos trechos de um conteúdo — que precisa de mais 1 vídeo feito da forma correta para amarrar o material. Além dos erros, a ferramenta tem limite de uso diário, mesmo com a assinatura.
Eu já falei que dá trabalho?
É um jogo surreal de receber os erros e voltar a mexer o doce até que ele acerte o ponto.
Das tentativas nos vídeos, para as insistências na vida, se pensarmos na quantidade de pessoas que conhecemos — especialmente na arrastação para todos os lados em aplicativos de relacionamento —, quantas dão errado para que uma dê certo?
E quando chega alguém com “menos erros” sobre o resultado que buscamos, qual a nossa disposição para construir essa relação?
Comecei a namorar há pouco mais de uma semana, depois de 50 dias de construção em conversas diárias e encontros semanais.
E essa construção não para. Nunca.
Se relacionar é construir.
Mas quem aí está tendo tempo (e vontade) de se dedicar sempre que é preciso ajustar?
O ChatGPT é mais um que foi criado para agilizar muita coisa no nosso dia a dia. Com isso ganhamos tempo. Mas quanto mais tempo recebemos, mais nos ocupamos.
Quanto mais nos facilitam, menos nos aprofundamos. Menos construímos.
Quem vai ler um livro quando se tem cada vez menos disposição de assistir vídeos com cada vez menos duração?
Um texto bom nasce de silêncio, do rascunho e da reescrita. A gente desaprendeu a, inclusive, escrever.
Desaprendeu a respeitar o tempo das coisas.
Foi no agilizar de tudo que a gente passou a achar que construir era perda de tempo. Mas entenda que reconstruir exige ainda mais esforço.
E que desistir facilmente só nos leva a viver superficialmente.
Se esse texto puder te marcar em apenas uma coisa para esta sua nova semana, que seja para te lembrar que tudo que realmente vale a pena, não vem da criação feita por uma inteligência artificial em 2 minutos depois do envio de um comando.
Não se dedicar à construção, só nos leva à repetição.
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