O maior erro que eu já cometi

 


Em mais de dez anos de amizade eu devo ter visto a cena menos de cinco vezes. Nessa minoria, ela acabava de almoçar, empurrava a cadeira para trás com as pernas, erguia a bandeja com seu prato, e então voltava a cadeira para o lugar, encostada à mesa, com uma das mãos. Lindo de ver.

 

Posso não ter falado para essa minha amiga voltar a cadeira para o lugar durante esses dez anos que trabalhamos juntos, mas tenho certeza que, durante os dois últimos, eu revezava entre dar o toque ou eu mesmo voltar a cadeira dela para junto da mesa - porque ela sempre a deixava afastada no restaurante.

 

Demorou mas mudou. Porém há quem talvez nunca vá mudar. E eu demorei muito para entender isso. Meu pensamento era: se eu consigo, não faz sentido o outro não conseguir. Mas posso afirmar que até sobre isso eu consegui mudar e meu maior aprendizado nessa vida (até aqui, claro) foi entender que nem todo mundo vai aprender e não é minha responsabilidade tentar ensinar. Coloco essa energia em tudo que eu posso aprender, especialmente depois de entender que isso se criou em mim com base nas cobranças de disciplina que tive minha criação durante a infância.

 

Sabe aquele lance de que cada um tem seu tempo? Me apeguei a isso e ainda acrescentei que tem gente que simplesmente vai viver parada nesse tempo, nesse mesmo ponto. Talvez porque não queira aprender. Ou realmente não consiga. Talvez porque aquilo não faça sentido para a pessoa. Mas, de um jeito ou de outro, posso afirmar que essa expectativa sobre a outro sempre foi o maior motivo da minha frustração no mundo (pausa para acharmos que é exagero quando realmente não é - rindo). Já terminei relacionamentos, amorosos, amistosos e profissionais por isso. Para mim era inadmissível uma pessoa no cargo de liderança não saber como tratar alguém ou não ser capaz de tomar uma decisão. Como o fofo chegou até esse cargo?, eu pensava - ainda penso assim, ok? Só não me sinto mais no papel de tentar mudar isso (ri e segui).

 

Se relacionamento é construir junto, por que o outro não se dispunha a fazer planos a dois? Se amizade é fazer questão de compartilhar, qual é o ponto de esconder toda a sua vida e encher os copos de chope na mesa de bar com mentiras?

 

Olha só. Se você sabe que colocar água no prato sujo de comida vai facilitar para ele ser levado depois em vez de deixá-lo ressecado em sujeira (eu rindo e refletindo), por que não coloca a água? Se tomo mundo precisa mostrar que aprendeu o uso da seta para ser aprovado na autoescola, por que muita gente não pratica?

 

Dia desses em um grupo no wtsapp, o contexto sobre a capacidade de as pessoas conseguirem ou não mudar e aprender veio acompanhado do assunto Política - inevitavelmente (ri aqui). Ao falarmos sobre como fervorosos que admiram o perfil capitão não conseguem ver o quão prejudicial um exemplo desrespeitoso pode ser, uma amiga opinou dizendo que acha que tem gente que não vai entender isso nunca, mesmo sentindo na pele e tendo situações que provem esse influência negativa bem embaixo de suas papadas. Eu discordo. Pelo mesmo hoje, com o pouco mais de fé e paciência que tenho. Acredito que as pessoas mudam, sim, principalmente diante de provações que elas vivenciam. Pode levar muito tempo, mas uma hora a ficha cai. Do contrário, é realmente viver na ignorância, por escolha ou não.

 

Hoje em dia, se o prato está sem água, eu mesmo o encho, eu mesmo dou o toque em quem o deixou ali todo seco e cagado ou eu mesmo ignoro a situação e sigo até minha sobremesa em paz. A escolha depende daquilo que, naquele momento, substitua o possível sentimento de frustração por realização.

 

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