Épocas melhores

 




O texto de hoje seria sobre um cara lindo, todo grande, barbudo, despojado e charmoso, enfiado em um carro pequeno, quase curvado, que me chamou atenção no trânsito ao parar do meu lado. Falaria desse contraste entre homens nanicos em carrões e uma certa necessidade de autoafirmações versus esse interessante perfil de pé grande compactado em seus veículos mais humildes. Mas me faltou a frieza para ignorar todo o cenário brasileiro para viajar deliciosamente sobre o então tema do texto dessa semana. De qualquer forma, como sempre faço, vou tentar tirar a política da escrita e trazer o tom dedicado ao comportamento e relacionamento, assuntos que tanto amo.   

Semanas atrás mandei uma música para a minha mãe. “Essa música sempre me lembra do vídeo do ratinho dançando em volta da ratoeira”, um conteúdo que, à época, início dos anos 2000, veio anexo na nossa então rede social: o e-mail. Ela adorou e respondeu algo como “saudade daquela época, era tudo muito melhor”.
  
Na hora, o comentário dela foi como um murro no meu estômago. Retruquei que eu acho a época que estou vivendo agora muito melhor que qualquer outra que passou. Porém, não sei se exatamente hoje, 3 de novembro de 2022, eu ainda pense assim.
  
Isso porque ontem, em pleno Dia de Finados, as pessoas estão deixando de celebrar a lembrança dos mortos para se juntarem a eles. As pessoas estão se matando, fisicamente, mentalmente, emocionalmente.
  
Brasileiros passaram dias nas ruas se manifestando contra o resultado de uma eleição. Crianças foram atropeladas. Teve Gritaria. Teve apologia. Um fanatismo doentio por uma pessoa, não por uma nação – apesar do discurso. Quem luta pela nação não idolatria ou rejeitaria um candidato, mas, sim, exigiria os seus direitos que devem ser atendidos independentemente do presidente. Levantariam placas pedindo pela saúde, pela educação, não importaria quem seja ou não o tal Capitão. Seria uma rebeldia pelo direito não pela rebelião. O Presidente deve nos servir, não o contrário. Lembra? 
  
Para onde você olha, a vontade é de evitar as pessoas, de tão sensíveis que estamos. Ando preferindo me exercitar a sentar em um bar. Olha o absurdo! (risos – viva a manifestação do humor e da leveza que seguem vivos em mim).
 
Em meio ao aprendizado que tiro de tudo, isso me traz mais alguns. Épocas melhores vêm e vão. É ingenuidade minha pensar que o momento atual será sempre a nossa melhor realização, afinal, teoricamente, fazer isso ser verdade estaria apenas nas nossas mãos. Até é, mas é impossível viver alheio ao contexto.
 
Hoje, nesta data, eu trocaria as imagens de pessoas reverenciando ou repugnando políticos pela época quando o tempo que tínhamos na internet era tão raro que a gente só queria aproveitar para curtir o vídeo ou power point anexo com uma musiquinha boa enviada por e-mail. Quando o nosso motivo de discussão nas famílias era o pai ainda não ter tomado banho minutos antes do horário da festa do filho. Dias em que a gente atendia todo mundo ao telefone porque não dava para saber quem estava ligando e isso fazia de nós mais tolerantes ao outro. Uma época em que todo mundo empurrava o carro junto para fazê-lo pegar no tranco. Um período que ficou para trás, quando as pessoas se dedicavam mais a aproveitar do que a postar.
 
A música que mandei para a minha mãe é “You Sexy Thing”, do Hot Chocolate. Você com certeza já ouviu. Ela começa com a frase “I believe in miracles (Eu acredito em milagres)”. Conhece? Você acredita?
 


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