De repente, tudo é retirado

 


Fim de relacionamento sempre tem perda de algo, especialmente quando se mora junto há anos. Por mais que talvez o outro tenha sido sem noção e te levado ao livramento – o que não foi o meu caso #GratiVórcio – tudo o que se tinha, de repente, é retirado.

 

Da ida ao mercado ao convívio na casa.

 

De repente aquela sensação de não saber onde está o carrinho para colocar as compras no merado que, pouco a pouco, vai pesando tanto quanto os produtos que você vem carregando enquanto procura pelo fofo e, consequentemente, o carrinho de compras a cada corredor, essa sensação é retirada de você. Assim, sem preparação, no débito.

 

O copo largado há dias ao lado da cama, se vai. De repente, aquele pedaço de piso do quarto está ali, livre, apenas existindo para receber o ar que passa sobre ele, para receber os pés ao descerem da cama todos os dias enquanto só te resta escolher por qual lado dela você quer começar o dia. Para algumas pessoas isso pode ser um desafio, afinal, elas não sabem lidar com opção porque não entendem quem são.

 

Quando menos esperamos, o outro decide se retirar e com ele se vai toda a marca de gordura e restos de comida que conviviam com a gente sobre o fogão no nosso lar.

 

São retiradas as roupas acumuladas há semanas para guardar. Os alimentos expostos, cortados pela metade na geladeira. Tudo é retirado junto com a frieza necessária para o corte de uma relação que não tinha desencontros mas que, para o outro, azedou.

 

Os cabelos pelo chão da casa são retirados pela metade. Afinal, há sempre quem fica quando o outro decide ir. E quando isso é decidido, não adianta se descabelar, apenas aceitar e lidar.

 

De repente, perdermos aquele sentimento de desorientação por não saber onde está o controle da TV. Perdas.

 

São retirados os vários tubos, com diferentes produtos, para diferentes fins de um mesmo corpo que ocupavam todo o espaço abaixo da janela do banheiro. Fim.

 

Com eles também se vão os gritos de lá de dentro, de alguém sentado ao vaso, com a porta fechada, na tentativa de contar algo em meio a dois cômodos de distância. De repente, foram retirados.

 

Difícil quando um decide pelos dois. Para quem fica, só resta entender tudo isso que foi levado e tirarmos um tempo para a gente reorganizar a casa.

 


Comentários

Viviane Gallon disse…
Para quem fica resta a aceitação, como vc disse, mas resta também um novo começo. Resta a dor que aos poucos se transforma em força, em autoconhecimento. A sabedoria não se vai com o outro, use-a e se transforme em ANTIFRÁGIL.
Obrigado, Vivvys. É um processo mesmo. Leva tempo. E este é mesmo o passo-a-passo.