Prometa não prometer

 

 

Lá em casa tem uma coisa que virou motivo de piada há muito tempo: tentar marcar algum compromisso com o meu pai. “Não sei, vamos ver, se estiver vivo até lá...”, ele costumava responder isso a cada convite para qualquer que fosse o plano dali a alguns dias – poderia ser um bar ou uma viagem. “Não prometo nada”.

Saindo da conveniência do sr. Claudinei – que parou com essa resposta de tanto que minha mãe, irmã e eu torturamos ele – e trazendo para as promessas que fazemos, passei a pensar na inutilidade delas. Afinal, que controle temos sobre o que vivemos e, consequentemente, quem seremos?

É melhor prometer nunca prometer. E para não cair em um vazio de ficar completamente à deriva da vida, podemos dizer nossas intenções, não promessas, e fazermos nosso melhor para cumpri-las porque tudo e todo mundo, em algum momento, vai mudar.

Dizer “eu nunca” também é um tipo de promessa, nem tom mais alto e, com isso, nos coloca num tombo maior que pega a gente sempre de memória curta quando pagamos a nossa língua fazendo exatamente o que dissemos que jamais faríamos.

Já vi gente não suportar o jeito que outras pessoas tratavam seus pets como se fossem filhos e quando teve o seu doguinho só faltou colocá-lo em um carrinho.

Pessoa dizer que resolveu “sossegar” porque já tinha curtido muito a vida e, na primeira oportunidade, se jogar na balada para viver a pegação, encher a cara e se drogar.

Falando de mim, já tirei muito sarro de quem vivia cantando música gospel, hoje tenho minha própria playlist, canto, sei todas de cor e em breve começarei a coreografar cada louvor ao Senhor rsrsrs.

Na alegria e na tristeza? Na saúde e na doença? Prometa, no máximo, que vai viver isso enquanto estiver de acordo com a sua crença. 

Precisamos nos permitir mudar sem nos culpar. Viver o que queremos viver e nos abrirmos a aprender o que estivermos dispostos a aprender. Para isso, se conseguirmos não prometer algo, menor será a dor, em nós e no outro.


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