Casal de Natal


Meu primeiro Natal depois do fim de um relacionamento de três anos foi uma situação cheia de conflitos. Ali, com a minha família, via meus pais, irmã, tias e primas, comendo e bebendo com seus maridos. Todos em pares. Eu avulso.
 



Passado o gosto ruim que vinha naturalmente do término recente, o eu avulso se tornou o eu independente e passei a ser quem adoçava um pouco a próxima edição de fim de ano, como um manjar de ameixas, a noite de alguns daqueles casais, quase sempre amargos por discussões, desrespeito e discordâncias.
 


Neste último fim de ano, um amigo disse que precisava conversar e lá estava eu. Ele dizendo que a vida sexual com o namorado, com quem mora junto, não existia mais e que o companheiro - bêbado a ponto de ser honesto, depois de uma das festas daquele período - disse que queria viver outras coisas. 


Por “outras coisas”, meu amigo não perguntou do que se tratava naquela hora e, no outro dia, sóbrio, o namorado dele não teve coragem de explicar por “coisas” entende-se “pessoas”, mas manteve o discurso de que não estavam bem. Aconselhei para conversarem abertamente sobre o que realmente querem, afinal, quando um dos dois deseja um terceiro (quarto, quinto) que vai além da curtição de uma noite, aquela relação já acabou faz tempo. A conversa nunca aconteceu.
 


Chegou 24 de dezembro e lá estava o story dos dois com a foto do Casal de Natal.
 
Enquanto vinha para o café onde escrevo semanalmente, a vaga ao lado da minha no estacionamento do meu condomínio estava vazia. 


Acontece que aos finais de semana, o dono dela vai de carro para a cidade do namorado. Durante a semana, ele enrola para descer do carro dele se percebe que eu chego logo em seguida com o meu. Isso só para me acompanhar no estacionamento e segurar a porta do bloco para eu passar. 

Uma hora depois, pode apostar: vai chegar mensagem dele me chamando para tomar cerveja na casa dele junto de elogios sobre esse corpo que me permite escrever isso.


Por mais que eu corte, acontece de tempos em tempos.
Se a abordagem é pontual no meu estacionamento, nas mensagens privadas no Instagram o fluxo é como hora do rush nas capitais, especialmente no horário comercial de segunda a sexta.


À noite e aos finais de semana, o movimento desaparece porque é quando os fofos estão com seus namorados e, inclusive, esposas.
Aqueles que vivem a mentira de um relacionamento só para ter a foto do Casal da Natal, precisam entender que adultério também é não ser inteiramente verdadeiro em uma relação.
 



Também trai aquele que finge. Trai quem diz que fica no casamento pelos filhos. Trai aquele que desrespeita. Trai quem sorri para receber um elogio e, no fundo, não ama nem se sente amado.
 Também é traição posar para a foto junto e declarar amor publicamente enquanto no privado a pessoa vive, em palavras, desejos e atitudes, uma versão de si que o outro nunca imaginaria existir.





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