Quando terminamos, ele apagou todas as nossas fotos juntos em seu Instagram - coisa que nunca fiz e ouso dizer que nunca faria, mesmo sabendo o quanto podemos mudar em apenas um dia.
Tempos depois, fui apagando nossas fotos em meu celular. Daquela viagem para a Disney ficaram as que ele não aparece e a magia de eu ter construído meu novo castelo.
Me arrependi.
Para minha sorte, o backup nas nuvens guardou tudo aquilo que, na hora da frustração, eu apaguei por não conseguir me manter racional, com os pés no chão.
Passados dois anos desde a separação, hoje faz três dias de uma nova foto nossa juntos. Agora como amigos, tirada em um evento de despedida, minutos antes de eu abraçá-lo bem forte e dizer o quanto desejo que a vida seja gentil com ele em sua nova cidade.
Tirada minutos antes de eu abraçar seu atual namorado e dar uma boa risada com ele sobre uma possível visita a casa que passará a ser dos dois. A nova foto foi parar no meu story. Imediatamente dezenas de mensagens foram parar no meu direct. “Você está bem?”, “O que aconteceu?”, “Nossa, Ma, como você é evoluído”.
Foram três anos juntos, dormindo toda noite na mesma cama, incluindo a passagem pela pandemia, dividindo coisas que muitas pessoas nunca vão saber. Por que apagar isso?
Eu realmente não consigo entender quem simplesmente anula o período vivido ao lado de alguém. Isso também é apagar parte da sua própria vida, parte de quem você foi e é ainda hoje, afinal, somos resultado de tudo que já vivemos.
Eu entendo que existem relacionamentos que fazem muito mal. Existe pessoa que é descoberta verdadeiramente como outra muito diferente do que aquela que se mostrava ser e isso machuca, nos causa tristeza de lembrar e vergonha de contar. Penso que casos assim valem a desconexão e a desativação do backup.
Mas há muitas relações que não passam por isso e são simplesmente bloqueadas pelos envolvidos ou por algum deles. Cada boa lembrança que tenta chegar é enviada automaticamente para a lixeira.
Se alguém já te fez tão bem com sua presença, qual o sentido de anular essa história com o sentimento de indiferença?
Se esse bom convívio é transferido para a vida após o término, o update dessa história se torna ainda mais especial. O maior desafio das relações é entender que todos nós mudamos e se dedicar ao ajuste que isso pede para fazer dar certo.
Dá um trabalho que o ChatGPT não vai fazer por você. Especialmente para os casais que têm filhos, essa atualização da relação para algo que continua sendo bom se faz extremamente necessária, na minha opinião.
Eu vejo o quanto a maior falha dos pais é esquecer que os filhos aprendem pelo exemplo. Desde o surgimento da fala, as primeiras palavras vêm da repetição daquilo que eles ouvem. O mesmo acontece com a nossa forma de agir.
Mais um motivo para se manter a boa relação depois da separação.
Tenho um casal de amigos divorciados que já dividiram os custos da viagem até o show favorito e a mesma cama no hotel. Em outro exemplo, o atual marido recebe o ex da mulher em casa, mesmo quando ela não está, e faz ovo frito para ele enquanto esperam a filha do primeiro casamento chegar para se encontrar com o pai.
Não consigo pensar em melhores exemplos sobre parceria, respeito e consideração às décadas juntos, diante dos filhos. Dos meus outros dois ex, só não conversa comigo um deles - que me bloqueou logo depois de receber meu convite no Instagram, depois de quinze anos desde o término (rindo enquanto escrevo e imagino o que passou pela cabeça dele).
Entendo. Respeito. Com certeza tem seus motivos.
Se uma das melhores receitas para se viver bem é colecionar tudo de gostoso que a vida tem para nos ofertar, me parece contraditório - e até meio egoísta - descartar pessoas que já nos fizeram amar.
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