Beijos evitados






Tenho visto que, quanto mais tempo a gente vive, mais tendemos a evitar certas coisas. Talvez por impaciência, cuidados com a saúde, mas,  principalmente por medo, preguiça e pela imposição de padrões que, quase sempre, não sabemos de onde vieram ou se, sequer, fazem algum sentido.


Quando alguém te pergunta: “está sentado?", geralmente a próxima fala tende a te deixar de boca aberta.


Quando minha amiga fez essa pergunta e emendou com “está encostado na cadeira?”, respondi com a sequência de sins e fiquei não só de boca aberta, mas também seca e branca acompanhada de um sinal de pressão baixa com o que ela contou a seguir.

Ela esteve com o ex-marido e teve um revival, flashback, momento de fraqueza - como muitos diriam - ou, como vou escolher para este texto: uma experiência que não precisava ser evitada.

Depois do fim do casamento, decidido principalmente por ela mesma, veio o beijo em meio a um momento de conversa e carinho entre eles.

Poderia ser nada de mais, se não fosse a observação que deixava claro o quão bom e intenso foi aquele beijo. ”De um jeito que a gente não teve nem em começo de namoro".

Fiquei pensando na probabilidade de ela ter vivido a sensação tão especial desse beijo dado o cenário do término e nossa constante falta de permissão diante desse tipo de situação.

Reviver algo assim com ex pode ser, sim, muito frustrante ou levar a algo que talvez seja bom e depois piore o que sobrou da relação.

Mas, nesse caso, não. Foi pontual. Ficou ali. Foi especial.

Pensa na quantidade de beijos evitados que a gente posa para colecionar em vez de se permitir e, como nesse exemplo, se deliciar.

“Ai, ele estava com os amigos; Nossa, mas ele é muito baixo; Você viu quantos anos ele tem?; Estava cheio de gente perto; Mas também, aquele beijo não daria em nada".

Um dos melhores beijos da minha vida foi um beijo amanhecido com um desconhecido.

Já escrevi sobre ele. Sobre eles. Aquele boca na boca sem preocupação com o hálito, movido pelo instinto, o começo de um s3xo que não aconteceria se esse beijo tivesse sido evitado.

Beijo sem frescura. Sem ajeitar o cabelo. Sem colocar filtro, com trilha sonora que você compõe na hora.

Beijo de entrega sem pensar no que vem depois dali. Faz sentido existir beijo que não seja assim?

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