Quando tive Dengue, meus pais apareceram na minha casa, sem avisar, para me levar frutas, água de coco e um caldo - sensacional que a minha mãe faz.
Na hora que o meu celular tocou e eu atendi com ela dizendo que estavam ali na porta do prédio, meu primeiro sentimento foi de muita irritação porque, primeiro: eu estava jogado na cama e o corpo doía só de eu respirar - imagina andar para abrir as três portas que nos separavam; segundo: eu detesto surpresas rsrs; terceiro: eu não fui criado para ser cuidado.
Meus pais entraram e aquele momento com eles me fez bem demais, pelo mimo, pela companhia que me tirava do pensamento da doença com nossas conversas, pelo fato de eu simplesmente tê-los ali.
Acontece que, desde criança, fui ensinado a me virar e a depender o mínimo possível dos outros. De começar a fazer meu próprio leite com Nescau aos 7 anos, a arrumar a cama, a lavar a garagem aos sábado como parte da faxina semanal, a lavar minha própria louça, a recolher e guardar minha roupa, depois passá-la, a começar a trabalhar, a ter que comprar minhas próprias roupas e por aí foi, e por aí vai.
Eu agradeço todos os dias pela educação que tive - é surreal ver o tanto de gente totalmente mimada e desorientada na vida pela falta da imposição de responsabilidades na criação.
Para os pais com filho ainda na infância, anota aí: colocar responsabilidade e consequência é o que vai desenvolver a autonomia no adulto que ele vai ser. Só assim ele vai criar o senso de solução de problemas por si mesmo.
Já o outro lado desta independência toda é a dificuldade que eu tenho de me permitir ser cuidado. Aceitar ajuda é difícil. Pedir ajuda é quase impossível.
Do mosquito que picou meu corpo às pessoas que tentam ganhar meu coração, claramente o pernilongo de pernas listradas tem muito mais facilidade em me atingir.
Dia desses comentei com uma pessoa que eu estava meio pra baixo e ela me pediu meu endereço. Não passei. Depois soube que viriam flores.
Agora me fala, como esse ser que vos escreve vai viver um romance? rsrs
Nas relações românticas que tive, no balanço geral, mais cuidei do que fui cuidado. Tudo lindo nisso. Eu tendo a ser a pessoa com mais independência financeira - e emocional - pelo contexto que já comentei e pela essência que sou. Para quem ama um horóscopo, sou capricorniano. Será que isso também conta? rsrs
Gosto mais de servir do que ser servido. Emprestar do que solicitar. Perguntar do que responder. Aconselhar do que reclamar.
Muita gente faz mau uso disso em mim, viu? Vixi! Aprendo de hora em hora a quem oferecer um pouco dessa doação tentando impor uma meritocracia rsrs.
Ao mesmo tempo que, de ano em ano, olho para a possibilidade de abertura para que alguém me ofereça colo e eu simplesmente acabo escolhendo por comprar mais um travesseiro.
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