Amigos de tetras

 




Lá atrás, na entrada dos anos 2000, Britney Spears lançava a primeira música do seu terceiro álbum, chamada Slave 4 U.


Lembro de estar em um supermercado quando o locutor anunciou que tocaria a novidade.
 



Eu parei com o carrinho e a ouvi de cabo a rabo olhando para uma prateleira com pacotes de sementes de girassol que a minha vó me pedia para comprar semanalmente para as maritacas dela.
 


O som era tão estranho, disforme, com uma batida que eu não conseguia acompanhar, totalmente diferente do que a então princesinha do pop já tinha lançado em seus dois primeiros CDs.


Passado o estranhamento, essa é a segunda música dela que eu mais amo - a primeira é Toxic, claro.



Das sonoridades para as amizades, cada dia mais eu vejo como as relações que já nos causaram estranhamento são valiosas.



Há poucas semanas retomei o contato com uma amiga com quem me desentendi e fiquei mais de um ano sem conversar.
Em um outro círculo, uma amiga com quem eu trabalhava ficou meses sem conversar comigo, mesmo com a gente se vendo todos os dias na empresa.
 



Retomadas essas relações, elas são exemplos de profundidade que não se encontra facilmente.
Há algo muito especial na troca que temos com pessoas com quem já nos desentendemos.
 



Isso acontece porque ali, antes da treta, durante a briga e passado o mal-estar, existe verdade. Há presença daquilo que essencialmente somos. É conversa sem rodeio. Os pontos de vista são colocados sem receio.


Não existe tato, tanto para nos colocarmos, como para ouvirmos. A preocupação com o bem-estar vem acompanhada da falta daquele filtro do medo de incomodar.
 
As relações que atravessam o desconforto e principalmente o silêncio, não voltam iguais.


Se transformam em amizades ainda mais reais e nos levam à vivência de algo único.
Da mesma forma que a música do início deste texto, amizades assim não se preocupam em agradar, mas em serem aquilo que cada parte delas simplesmente é. 




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