Enquanto a minha mãe completou 60 anos esta semana, três amigos estão prestes a entrar nos 40 com direito a uma linda casa alugada em Rifaina para comemorar em uma viagem em grupo.
Vai ser a primeira vez que viajamos juntos, mais um presente que - dentre muitos outros que vejo - envelhecer nos possibilita. De tempos em tempos caio nesse pensamento com o qual quase ninguém se identifica: envelhecer é lindo.
Tem tudo para ser.
Talvez o conflito sobre a dificuldade de aceitação dessa beleza comece pelo tom pejorativo que tem o verbo envelhecer. Fala-se muito da perda e quase nada do ganho. Enquanto os olhos da maioria está na partida da juventude, nos esquecemos de outras coisas que vão embora em um processo maravilhoso que nos leva a ser cada vez mais leves.
O ego, por exemplo, tende a ir embora. Essa vaidade boba que nos leva somente ao apego e à angustia, pouco a pouco se dissolve graças ao fato de aquilo que nos liga à ela também sumir.
Penso que é por isso que, via de regra, morremos velhos. Porque, para morrer em paz, é preciso entender o que realmente importa. Envelhecer nos liberta da necessidade de se provar e do medo de errar. Viver isso como deve ser vivido é entender que trocamos a pressa pela presença. Nos leva a viver menos de aparência e mais de substância.
Será que sem a condição imposta pela idade entenderíamos isso?
Enquanto alguns movimentos podem se tornar mais limitados, todo o resto ganha mais profundidade. A gente finalmente se desfaz da ansiedade pelo ter para poder se dedicar a simplesmente ser.
Envelhecer é deixar ir enquanto se agradece pelo que fica. Quando ouvimos sobre envelhecer, fala-se muito sobre tristeza, solidão e doença, e nada sobre histórias, conhecimento, risadas, vínculos mais profundos e o acolhimento do silêncio.
Não deveria ser sobre o acúmulo de rugas, mas da libertação de nossas culpas. Deveria ser sobre a beleza de aprendermos a nos aconchegar dentro de nós quando tudo que aquilo é externo, pouco a pouco, se desfaz.
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