Ontem fui almoçar em um restaurante árabe gostoso demais. Sabadinho. Calorzinho. Pensei na cerveja para começar os trabalhos, mas estou sem beber álcool por conta de uma medicação. Pedi a zero. Me realizei a mil.
O exercício de não beber e ao mesmo tempo me satisfazer com isso, me fez olhar para uma coisa que eu acredito ser a base de muitos problemas gravíssimos que as pessoas têm enfrentado: a fuga de nós mesmos a necessidade de se sentir parte - no caso, parte do grupo de pessoas que bebe com quem convive - e a necessidade de se anestesiar - e aqui está muito do escapismo de si mesmo.
Tudo é criado o tempo todo para distrair a gente.
Pouco a pouco consumimos coisas que nos consomem. O resultado é que a breve sensação de bem-estar nos distancia da disposição que teríamos de nos encarar.
Isso nos coloca em um automático que nos gera cada vez mais disfunções. Uma desorientação que leva às doenças emocionais e, consequentemente, físicas.
É aí que, quando o bicho pega, da mesma forma que a pessoa procurou essas doses de distração para se manter “bem”, ela vai buscar recursos externos para ajustar o desiquilíbrio em que ela mesma se colocou.
É remédio para se acalmar. Reiki para se recarregar. Passe para se equilibrar. Tarot para se guiar. Exercício físico em excesso para não ter que pensar.
Todos esses recursos são válidos, tá, gente? Mas devem ser ferramentas para te ajudar a chegar em um ponto em que, dali pra frente, você mesmo consegue seguir sozinho.
E aí aqui que está a melhor e ao mesmo tempo mais temida fonte de cura: saber estar sozinho.
É preciso tempo e coragem para conseguir olhar para dentro de si e então estar inteiro em quem somos.
Para se realizar, você vai ter que se enfrentar.
Se te falta tempo ou coragem para estar em sua própria companhia, usa a sua hora de dormir que, mesmo que você divida a cama com outra pessoa ou coloque musiquinha para te distrair, esse é um momento que inevitavelmente você tem que estar consigo mesmo.
Nessa hora, se abre para ver o que te bate sem se julgar. Sente o que vem. Tenta se ver independente das coisas que surgirem. Se pergunta: por que eu preciso tanto da aprovação dos outros; por que eu tenho medo de ficar sozinho; por que eu penso e ajo dessa forma, de onde vem isso?
Faz esse exercício tendo em mente que você não é o que as pessoas te disseram e o que você viu acontecer até aqui. Você pode ser livre disso tudo, se você conseguir se conectar com quem você realmente é: um serzinho que veio pra cá sem nada disso que foi imposto a você.
Entenda isso. Aceita isso. Agradeça por isso e comece a se livrar disso.
É complicadinho? É. Mas o resultado é impagável. Isso porque ele te traz paz e, imediatamente, ele começa a te levar para ocasiões de frutos muito maiores que os que você colheu até hoje.
É preciso abraçar o seu medo de ficar sozinho para terminar um relacionamento sem sentido, antes de conseguir amar de forma mais plena. Encarar o que te leva à necessidade de ser elogiado o tempo inteiro, antes de conseguir brilhar por sua verdade. É colocar no colo aquilo que te faz sofrer, encarar sem desviar o olhar e começar a colocar a mão nisso.
E para isso acontecer, você tem que entender que é com você.
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